«O conhecimento do próximo tem isto de especial: passa necessariamente através do conhecimento de si próprio» (Italo Calvino); «Conhecer bem um homem quer dizer conhecer-se bem a si próprio» (William Shakespeare).
Alinho dois testemunhos de diferentes autores, fruto de leituras díspares, mas curiosamente convergentes. Em ambas, com efeito, entretece-se numa espécie de reciprocidade um duplo conhecimento, o de si e o dos outros: sem o primeiro não se tem o segundo e vice-versa.
Partamos da primeira frase, que cito do livro "Palomar" (1983), do escritor Italo Calvino, falecido em Siena no ano de 1985, que torna atual o célebre moto grego "gnóthi sautón", «conhece-te a ti mesmo», inscrito no templo de Apolo, em Delfos.
O conhecimento de si próprio é o percurso necessário a realizar se se quer ser capaz de conhecer as pessoas que nos rodeiam. A superficialidade no julgar e avaliar os outros nasce de sermos, em primeiro lugar, incapazes de sopesar a nossa realidade interior, nos seus méritos e nos seus limites.
Mas, quase por uma espécie de propriedade transitiva, também é verdade o contrário. É só com um exercício de atenção, de escuta e de diálogo com os outros que se tem a capacidade de escavar a interioridade.
Infelizmente, é preciso dizer que nos nossos dias ambas as práticas do conhecer-se a si e aos outros são de escasso interesse, dado que muitos se contentam com a superfície e a aparência.
Até porque, como dizia uma vinheta da banda desenhada de "B.C.", de Johnny Hart, «talvez seja melhor deixar estar: a conhecer-se a si próprio poderia ter-se uma má surpresa!».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi