O tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e o lema “Eu vim para servir” compõem as bases da edição de 2015 da Campanha de Fraternidade, momento privilegiado de meditação, oração e transformação organizado pela Igreja católica no Brasil durante a Quaresma.
No ano em que se assinala o cinquentenário do encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965), milhares de paróquias, movimentos e dioceses brasileiras mobilizam-se para «aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade», segundo o «objetivo geral» da iniciativa.
«Aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas» é uma das metas a atingir pela campanha que começa hoje, Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia da Quaresma.
Entre os «objetivos específicos» inclui-se também a procura de «novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja» e a atuação, «à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa», privilegiando a construção da solidariedade e da justiça.
O documento que serve de suporte à iniciativa nascida em 1964, um ano antes da conclusão do concílio, inspira-se em duas das suas constituições mais importantes: “Lumen gentium”, sobre a identidade da Igreja, e “Gaudium et spes”, que incide sobre a relação dos católicos com o mundo.
«Essa Campanha procura lembrar que a Igreja está a serviço das pessoas, ela não quer privilégios. Até porque a Igreja é mais do que uma estrutura, ela é cada cristão, cada batizado, que está inserido na sociedade por meio do trabalho, das instituições e diversas ações. Queremos refletir essa presença da Igreja na sociedade», assinalou o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o bispo Leonardo Steiner.
O documento lembra que o episcopado brasileiro inspirou-se nas palavras «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos», atribuídas a Cristo (Marcos 10, 45), e salienta que «a mensagem do Evangelho exige dos cristãos o direito e o dever de participar da vida da sociedade», por exemplo «na política».
«Não cabe às Igrejas e a qualquer outra instituição religiosa definir e determinar os destinos da sociedade, como apregoa a doutrina. Mas o direito de manifestação e intervenção, com a exposição de suas doutrinas e posicionamentos éticos, em favor da dignidade humana e da justiça social», acentua o documento.
A participação da Igreja na sociedade caracteriza-se «pelo fomento de valores em prol da vida, da dignidade das pessoas e do bem comum, a partir de Jesus Cristo. É o seu modo de servir».
Na mensagem do papa sobre a Campanha da Fraternidade, divulgada hoje pelo Vaticano, é acentuado que, «sem esquecer a autonomia das realidades terrenas», cada pessoa «deve fazer a sua parte», e, «de modo concreto, é preciso ajudar aqueles que são mais pobres e necessitados».
«Quando Jesus nos diz “Eu vim para servir”», ensina-nos aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo, observa Francisco.
O texto base da Campanha da Fraternidade está organizado em quatro partes, começando por refletir pela história das relações entre a Igreja e a sociedade no Brasil, secção em que se refere à intervenção dos portugueses no território, antes da independência, bem como aos Jesuítas, que quiseram aprender a língua da população local.
No segundo capítulo é aprofundada a relação entre Igreja e sociedade à luz da Bíblia e dos ensinamentos da Igreja, enquanto que o terceiro «debate uma visão social a partir do serviço, diálogo e cooperação entre Igreja e sociedade, além de refletir sobre “Dignidade humana, bem comum e justiça social” e “O serviço da Igreja à sociedade”.
O documento termina com a apresentação dos resultados da Campanha de 2014, os projetos atendidos por região, a prestação de contas e os temas discutidos nos anos anteriores.
Rui Jorge Martins