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Diretora dos Museus do Vaticano vai unir Sting à capela Sistina: Desafios após primeiro ano de mandato

Diretora dos Museus do Vaticano vai unir Sting à capela Sistina: Desafios após primeiro ano de mandato

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A Cidade do Vaticano tem sido governada por homens desde que foi estabelecida como um estado independente, em 1929. No entanto, há um ano, uma mulher juntou-se às primeiras filas: Barbara Jatta, a primeira diretora feminina dos Museus do Vaticano.

Nos 12 meses desde a sua nomeação colocou o seu selo na tarefa, resistiu a algumas das iniciativas do seu anteecessor e forjou o seu próprio caminho.

Jatta, única mulher da lista de seis candidatos, foi escolhida pelo papa Francisco. No cargo desde janeiro de 2017, supervisiona cerca de 200 mil peças e uma variedade de museus, apartamentos papais, pátios de escultura e outros espaços, incluindo a capela Sistina.

A capela é um dos lugares mais sagrados da Igreja católica romana, onde os papas são eleitos. Também fica repleta quase diariamente com multidões cada vez maiores que se debatem para contemplar o famoso teto com frescos de Miguel Ângelo.

Os Museus do Vaticano dizem que o número de visitantes em 2017 deverá chegar a um recorde, excedendo significativamente os seis milhões que o antecessor da Barbara Jatta, Antonio Paolucci, definiu como limite superior anual. Os totais crescentes representam o desafio mais difícil para a diretora.



A arte desempenhou um papel importante na família de Jatta: a mãe e a irmã são restauradoras de arte; a sua avó, originária da Rússia, era pintora; e os seus antepassados paternos fundaram um museu arqueológico



Barbara Jatta é amigável mas firme, e expressa grandes ambições para ela e para a instituição. Numa entrevista afirmou que tinha trabalhado durante 20 anos na Biblioteca do Vaticano, liderando o seu departamento de impressões a partir de 2010. Quando ouviu falar da sua nomeação para os Museus do Vaticano, disse: «À primeira foi um choque enfrentar uma mudança tão grande».

Em relação ao facto de ser mulher, referiu que não entendia o que significava até começar o trabalho: «Sempre que assistia a conferências ou eventos públicos, muitas mulheres vinham até mim, dizendo: "Estamos orgulhosos e a Barbara, de algum modo, representa-nos”».

O seu gabinete, com vista para a cúpula da basílica de S. Pedro, de Miguel Ângelo, foi preenchido com fotos de família, uma fotografia emoldurada do papa Francisco e o retrato do busto de outro antecessor: o escultor neoclássico Antonio Canova, o primeiro diretor dos museus papais.

A arte desempenhou um papel importante na família de Jatta: a mãe e a irmã são restauradoras de arte; a sua avó, originária da Rússia, era pintora; e os seus antepassados ​​paternos fundaram um museu arqueológico, com o nome da família, em Ruvo di Puglia, no sul da Itália.



Gerir os Museus do Vaticano é um trabalho colossal. Barbara Jatta é responsável por preservar, exibir e partilhar o conhecimento de todos os tesouros acumulados pelos papas ao longo dos séculos



Eike Schmidt, diretor alemão da Galeria Uffizi, em Florença, considera que a nomeação da Barbara Jatta foi um sinal positivo. «Dentro do Vaticano dominado pelos homens, atribuir um papel tão proeminente a uma mulher foi uma boa notícia», declarou, acrescentando que esperava que o mundo da cultura em breve «ultrapasse» as considerações de género e «olhe as pessoas pelo que fizeram e fazem».

Um curador que trabalha para a diretora, Maurizio Sannibale, do Museu Etrusco Gregoriano, disse que a conhecia desde que eram estudantes da Universidade Sapienza, em Roma. Descreveu-a como «afável, decisiva e empática», capaz de «estabelecer desafios para si mesma».

Gerir os Museus do Vaticano é um trabalho colossal. Barbara Jatta é responsável por preservar, exibir e partilhar o conhecimento de todos os tesouros acumulados pelos papas ao longo dos séculos, incluindo as vastas coleções egípcias e etruscas, a escultura "Laocoön" do primeiro século a.C., e a pintura do “S. Jerónimo”, realizada no séc. XV por Leonardo da Vinci.

Secções inteiras dos museus estão a passar por reformas ordenadas pelo antecessor, antigo ministro da Cultura, que foi diretor durante nove anos e que anteriormente liderou os museus de Florença. As renovações incluem trabalho num pátio público do século XVI conhecido como Cortile della Pigna (um dos muitos projetos apoiados pelos Patronos das Artes nos Museus do Vaticano).



«Se fosse um visitante que desejasse ver a capela Sistina e tivesse chegado a Roma e lhe dissessem que não a podia ver, o que faria?», questionou. «Nós também somos um museu com valor moral e espiritual. A capela Sistina também é uma capela, e isso é algo que não pode ser esquecido»



O turismo é uma linha de vida não só dos museus, mas do Vaticano como um todo. Dos 100 milhões de euros da receita anual gerada pelos museus, cerca de metade vai para o estado, segundo Antonio Paolucci. Isso complica o trabalho de qualquer diretor. Como também o facto de muitos espaços dos museus terem significado artístico e religioso - começando pela capela Sistina.

Seis dias por semana, e no último domingo de cada mês, multidões de visitantes correm pelas obras-primas de Ticiano e Caravaggio e através de um conjunto de salas pintadas por Rafael para chegar à capela de Miguel Ângelo. Numa tarde recente, o espaço sagrado estava cheio de adultos boquiabertos de olhos no teto, bebés em carrinhos e guias turísticos com bandeiras. Os guardas silenciavam as multidões de tempos a tempos e impediam que as pessoas tirassem fotografias.

O suor e a respiração de milhões de visitantes, e o pó que trazem, colocam em perigo os frescos da capela, descobriram equipas de conservação do Vaticano. Paolucci tinha planeado uma capela Sistina virtual nas instalações do museu: uma réplica em tamanho real ou uma simulação digital que as multidões poderiam experimentar, de modo a limitar o congestionamento. Ele também anunciou que as visitas terminariam quando chegassem a seis milhões por ano. A partir desse ponto, explicou, os bilhetes teriam de ser antecipadamente adquiridos pela Internet. Mas ele deixou o cargo antes da concretização desses planos.

Barbara Jatta, que trabalhou sob o comando do antecessor como vice-diretora e aparente herdeira a partir de meados de 2016, disse que estava contra a medida de impedir o acesso aos museus, mesmo que os totais de 2017 apontem para outro aumento significativo nas multidões, em cerca de 10%.



Instituição próxima do coração do papa Francisco, o Museu Etnológico reabrirá em breve com exposições ampliadas das 80 mil peças que possui, muitas das quais foram enviadas de todo o mundo para uma exposição organizada pelo papa Pio XI



«Se fosse um visitante que desejasse ver a capela Sistina e tivesse chegado a Roma e lhe dissessem que não a podia ver, o que faria?», questionou. «Nós também somos um museu com valor moral e espiritual. A capela Sistina também é uma capela, e isso é algo que não pode ser esquecido.»

Quanto a uma capela Sistina virtual, implicaria muito espaço e custaria mais dinheiro aos visitantes, disse ela. Em vez disso, os Museus do Vaticano vão inaugurar em março uma apresentação multimédia imersiva (com banda sonora de Sting), a ser exibida num auditório perto do Vaticano, que ilustra a história da capela Sistina.

Jatta revelou que também planeava abrir uma segunda entrada para os Museus do Vaticano, que ofereceria rotas alternativas através de «partes dos museus menos visitadas», como o Museu Etnológico.

Instituição próxima do coração do papa Francisco, o Museu Etnológico reabrirá em breve com exposições ampliadas das 80 mil peças que possui, muitas das quais foram enviadas de todo o mundo para uma exposição organizada pelo papa Pio XI em 1925.

Entretanto estende-se o horário de abertura em outras instituições, como o Museu Etrusco, para aumentar as visitas.

Conseguir que os turistas tenham mais conhecimento de outros museus é difícil, admite Maurizio Sannibale. E qualquer que seja o percurso que tomem, querem ver a capela Sistina, como reconheceu Barbara Jatta. Sendo assim, como é que uma nova entrada resolveria o problema?

A diretora assinalou disse que o objetivo central era aliviar o congestionamento, como fez o Museu do Louvre, em Paris, através de «uma melhor distribuição de turistas dentro dos museus».

Para Eike Schmidt as coleções do Vaticano, iniciadas há cerca de dois milénios, foram «uma das mais antigas coleções de arte que a humanidade tem» e tiveram «uma importância quase única em todo o planeta».

A missão da Barbara Jatta, como ela descreveu, é «encontrar uma maneira para os visitantes as verem nas condições certas».



 

Farah Nayeri
In New York Times
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 03.01.2018 | Atualizado em 25.04.2023

 

 

 
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