

Dizia Virginia Woolf que «uma história não existe até ser contada», e o silêncio sobre a história das mulheres, diz o padre José Tolentino Mendonça, exegeta e poeta de Lisboa, durou demasiado tempo na Igreja.
Na assembleia plenária do Pontifício Conselho da Cultura, dedicado ao tema “Culturas femininas: entre igualdade e diferença”, que decorre em Roma desde quarta-feira, as histórias das mulheres são objeto de análise, antes da audiência com o papa Francisco, marcada para este sábado, dia de conclusão do encontro.
Na assembleia sentam-se cerca de três dezenas de pessoas: mulheres de elevada competência em vários âmbitos do saber, cientistas, homens da Igreja de todo o mundo, incluindo de Portugal, com o padre Tolentino Mendonça, anterior diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, e o bispo D. Carlos Azevedo, delegado do Pontifício Conselho da Cultura.
O debate é aberto, sem tabus: fala-se de poder e de crise do plano masculino, de mulheres europeias, africanas, árabes, orientais, fala-se de espírito e de corpo, de “generatividade”, termo que dirige o olhar para além da maternidade, fala-se de heterologia e novas famílias.
Fala-se de mulheres cristãs e muçulmanas, mas as figuras femininas mais citadas são judaicas, de Hanna Arendt a Edith Stein.
Fala-se de educação, de ciência, de economia, com relatoras que se alternam na moderação, da socióloga Consuelo Corradi à diplomata Ulla Gudmunson, passando pela professora de Espiritualidade na Pontifícia Universidade Gregoriana, Donna Orsuto, e Laura Bastianelli, da Escola Superior de Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Salesiana.
O programa de hoje prevê as intervenções da Fiona May, duas vezes campeã do mundo na modalidade de salto em comprimento, da diretora da coleção de arte dos Museus do Vaticano, Micol Forti, e da religiosa Eugenia Bonetti, distinguida pelo Parlamento Europeu e autora de um livro sobre escravatura sexual em mulheres nigerianas.
A agenda inclui igualmente as intervenções da professora Anne Marie Pelletier, primeira mulher teóloga a receber o Prémio Ratzinger de Teologia, atribuído por um organismo do Vaticano, e da religiosa Mary Melone, reitora da Pontifícia Universidade Antonianum, primeira mulher a ocupar o cargo numa universidade pontifícia.
La 27 ora (Corriere della Sera)