“No meio deles”- Padrão da Légua | 1962 | Fernando Abrunhosa de Brito, Isabel Maria Fernandes e Pe. Leonel de Oliveira | Espólio FAB | D.R.
Natural do Porto, ingressou em Arquitetura, na Escola de Belas Artes daquela cidade em 1954. Foi aluno de Agostinho Ricca, Octávio Lixa Filgueiras e Fernando Távora, entre outros. Durante o período de formação académica foi ativo militante da Juventude Universitária Católica – JUC. O interesse pelas matérias sociais e urbanísticas levou-o até ao Padrão da Légua, uma paróquia experimental do Porto dinamizada pelo Pe. Leonel de Oliveira. A radicalidade da proposta pastoral despertaria também a curiosidade do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, com quem Fernando Abrunhosa de Brito diversas vezes colaborou. Da amizade e da colaboração do jovem estudante com a equipa pastoral do Padrão da Légua resultou um trabalho pioneiro no campo da sociologia religiosa, urbanismo e arquitetura que motivaria a redação da tese "Unidade de promoção e integração social entre povos de fixação recente" apresentada em 1967 ao Concurso para Obtenção do Diploma de Arquiteto (CODA) – prova avaliada em 20 valores.
Ao longo da década de 1960 a sua atividade profissional foi marcada pela encomenda religiosa, principalmente nas dioceses de Porto e Aveiro. O primeiro trabalho desta natureza foi o da remodelação da capela do Seminário Maior do Porto (1962).
Dentre os muitos trabalhos que desenvolveria no gabinete com Manuel Magalhães, destaca-se a remodelação da igreja paroquial de Sever do Vouga (1965) – um trabalho realizado no espírito pós-conciliar que, tirando partido da construção pré-existente em avançado estado de degradação, ampliou e dignificou a igreja reorganizando a comunidade em torno do altar.
No Seminário da Boa Nova de Valadares (1966-69) respondeu às exigências da moderna pedagogia, superando o clássico sistema claustral. Criou um sistema aberto, onde os diversos blocos se dispõem em contacto com a natureza, em íntima comunhão de espaços, interior e exterior. Um conjunto arquitetónico moderno, «feito com pouco, por falta de tempo e modesto custo, desenhado por vezes no chão, diretamente e quase sem papel».
Seminário da Boa Nova, Valadares |1966-1969 | Fernando Abrunhosa de Brito e Manuel Magalhães | Espólio FAB | D.R.
A capela, «espaço sagrado, envolvido pelo Ar e sobre a Terra jardim atrás do presbitério, espaço onde canta a Água e crepita o Fogo», tira partido dos recursos plásticos dos materiais, jogados com delicadas entradas de luz, conforme recordava em 2015. Ali, na capela reuniu trabalhos de artistas plásticos: uma tapeçaria, aludindo ao Pentecostes, da sua mulher Isabel Maria Fernandes e um baixo relevo de Charters de Almeida.
Capela do Seminário da Boa Nova, Valadares | 1966-1969 e 2015 | Espólio FAB | D.R.
Fica ainda para a história a ampliação da antiga igreja do convento de S. Domingos convertida em Sé de Aveiro (1967) a que se junta um conjunto de pequenas obras dispersas, na sua maioria desconhecidas – intervenções modernas sobre o património religioso corrente.
Fernando Abrunhosa de Brito faleceu a 5 de novembro na sua cidade natal, com 82 anos, deixando um legado que vale a pena conhecer.
As imagens apresentadas foram recolhidas no âmbito da investigação académica do autor: “A Igreja na Cidade, serviço e acolhimento - arquitetura portuguesa 1950-1975”.