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Eutanásia «não tem substrato no sentimento generalizado da população», considera Walter Osswald

Imagem Walter Osswald | D.R.

Eutanásia «não tem substrato no sentimento generalizado da população», considera Walter Osswald

Walter Osswald, médico e especialista em Bioética que a Igreja católica distinguiu com a edição de 2016 do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes, está «convicto de que não a eutanásia não vai ser despenalizada em Portugal».

«Julgo que se trata, sobretudo, de um movimento que é animado por alguns nomes conhecidos mas que não tem substrato no sentimento generalizado da população», declarou ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, nas primeiras declarações após a atribuição do prémio.

Para o professor catedrático emérito da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, «caso a eutanásia fosse despenalizada, é evidente que os resultados seriam aquilo a que se chama a "rampa deslizante", com um aumento progressivo de excecções, como sempre acontece: o que a princípio é excecional torna-se depois corriqueiro».

«Assim aconteceu com o aborto, que teve ao início regras muito estritas, com a obrigação de cumprir três condições, bastando hoje uma declaração da mulher entregue até às 10 semanas. Por isso essa vulgarização é inevitável», sublinha.

Nos últimos dias foi divulgada a notícia de que, na Holanda, uma jovem de 20 anos, vítima de abusos sexuais entre os cinco e os 15 anos, pediu para morrer, o que lhe foi concedido, por o seu estado psicológico foi descrito como incurável.

«No caso holandês, isso aconteceu desde o início. Está mais do que demonstrado em numerosos artigos, inclusive de defensores da eutanásia, que as condições previstas inicialmente para casos especiais - era preciso ter a certeza absoluta de que havia uma decisão consciente, sem coação, perfeitamente definitiva e séria da pessoa em causa, que era preciso repetir várias vezes, atestando-se que o subscritor da declaração não podia ter problemas psíquicos -, todas desapareceram», explicou Walter Osswald.

O caso em apreço demonstra que chegar à eutanásia «é muito fácil»: «Na Holanda é uma pessoa que é violada, na Bélgica foram dois irmãos que estavam progressivamente a ficar cegos. Ou seja, já está inteiramente fora das condições iniciais. Começa-se com um quadro muito restrito, o que faz com que o público pense que a prática não vai ser frequente e se aplicará apenas a casos muito bem estudados e determinados; na verdade, é um logro em que as pessoas caem, porque a generalização é inevitável».

No entender de Walter Osswald «não é possível que na Holanda haja quatro a cinco mil ocorrências de eutanásia por ano e sejam todos excecionais».

«E o que é mais grave é que muitos desses casos são de pessoas que nunca pediram para serem mortas. Trata-se de pessoas que estão dementes, que estão em estado crepuscular, que estão internadas em lares de idosos e que já têm pouca capacidade para decidirem, e que a família, os médicos, os assistentes sociais entendem que já não têm qualidade de vida e que o melhor é serem afastadas. Tanto assim é que hoje, na Holanda, a eutanásia é reconhecida como tratamento médico, ou seja, já não considerado o fim de uma vida humana», frisou.

O especialista em Bioética sugere que não é estranho que a despenalização da eutanásia esteja em vigor na Holanda, na Bélgica e no Luxemburgo: «Devíamos perguntar porque é que só três países minúsculos, no total da população mundial, legalizaram a eutanásia. No nosso caso, Portugal, um pequenino país, sem reflexo na opinião mundial, também iria atrás daquela tendência».

«Há claramente uma manobra que tem subjacente a convicção de que, por se tratar de países mais pequenos, se pode facilmente convencer uma camada intelectual, que faz um bocado de barulho, e depressa se aprova a legislação. Como recentemente aconteceu com a gestação de substituição, em que foram tomadas medidas seríssimas e gravíssimas, com uma inconsciência que fica muito mal ao Parlamento português e aos seus deputados», acentuou Walter Osswald.

A entrega do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes, que desde há 12 anos consecutivos é concedido pelo SNPC, com o patrocínio da Renascença, integra-se no programa da 12.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que a 4 de junho debate em Fátima, na Casa Domus Carmeli, o tema "Cultura e Economia: Implicações e desafios".

Na sessão pública de atribuição da distinção, agendada para as 16h30, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto, entregará a escultura "Árvore da Vida" ao premiado, que também receberá, das mãos do Conselho de Gerência da Renascença, o valor de 2 500 euros.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 05.03.2017 | Atualizado em 25.04.2023

 

 
Imagem Walter Osswald | D.R.
O que é mais grave é que muitos desses casos são de pessoas que nunca pediram para serem mortas. Trata-se de pessoas que estão dementes, que estão em estado crepuscular, que estão internadas em lares de idosos e que já têm pouca capacidade para decidirem, e que a família, os médicos, os assistentes sociais entendem que já não têm qualidade de vida e que o melhor é serem afastadas
Há claramente uma manobra que tem subjacente a convicção de que, por se tratar de países mais pequenos, se pode facilmente convencer uma camada intelectual, que faz um bocado de barulho, e depressa se aprova a legislação. Como recentemente aconteceu com a gestação de substituição, em que foram tomadas medidas seríssimas e gravíssimas, com uma inconsciência que fica muito mal ao Parlamento português
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