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Faculdades de Belas-Artes e Teologia organizam colóquio "Persistência da Obra II, Arte e Religião"

Faculdades de Belas-Artes e Teologia organizam colóquio "Persistência da Obra II, Arte e Religião"

Imagem Cartaz (det.) | D.R.

A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e a Faculdade de Teologia da Universidade Católica organizam a 17 de maio, em Lisboa [desmarcado, nova data a anunciar, atualização em 12.5.2017], o colóquio internacional "Persistência da Obra II, Arte e Religião".

A iniciativa inicia-se às 10h00 com a sessão de abertura, em que interveem o presidente da Faculdade de Belas-Artes, Victor dos Reis, e Tomás Maia, da organização, revela uma nota enviada hoje ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

O programa prossegue às 10h30 com Marie-José Mondzain, seguindo-se, uma hora depois, Paulo Pires do Vale.

Pelas 15h00 decorre a conferência de Tomás Maia, antes de Jean-Luc Nancy, às 16h00, e pelas 17h30 realiza-se um debate entre os quatro oradores e o público, com moderação de José Tolentino Mendonça.

Tomás Maia é o organizador da obra "Persistência da obra - Arte e política" (Assírio & Alvim), na qual se constata que «'o poder financeiro tende a apagar a linha de separação, não já entre o bom e o mau gosto», mas «entre a obra e os produtos que saturam o mercado cultural».

«Isto significa, simplesmente, que o niilismo já não afeta somente aquele que exercia (ou exerce) o juízo de gosto: ele foi totalmente interiorizado por aquele que cria - ou aparenta criar. Na ausência de um princípio objetivo que distinguisse a obra, abriu-se objetivamente o espaço para o aparecimento de um sujeito que não distingue nada de nada - e para o qual tudo é válido e tudo vale», lê-se na sinopse do livro, que conta com textos de Boyan Manchev, Silvina Rodrigues Lopes, Jean-Luc Nancy, Federico Ferrari e Isabel Sabino.



Depois de defender que «a arte faz do dom infinito uma coisa, qualquer coisa», o que signfica que «faz daquilo que é sem-fim uma coisa finita», o texto de apresentação acentua que «para muitos, na verdade, fazer obra talvez seja pouco»: «Não o penso assim»



«Porque é que enuncio a questão da persistência da arte - e, mais exatamente, da obra? E se esta questão existe, num certo sentido, desde que há arte, porque é que ela tomou uma tonalidade particularmente inquieta e inquietante? Ela existe, pelo menos com a acuidade com que a sinto, porque o gesto da arte entrou em colisão cada vez maior com a essência do regime económico que determina a nossa vida em comum, isto é, com a essência do capitalismo financeiro», escreveu Tomás Maia no texto de apresentação do volume, datado de 2011.

Licenciado em Artes Plásticas e doutorado em Filosofia, Tomás Maia sublinha que «nas últimas décadas, a colisão entre um e outro lado tornou-se mais estrondosa» porque ambos se contaminaram «a um ponto que certas coisas, apresentadas como “obras”, não são mais do que produtos "derivados" de uma atividade financeira».

«E se essas coisas não são mais do que "derivados", no sentido financeiro do termo, é porque essa “arte” passou a ser uma atividade derivada ou deixou de ser um fazer originário e originante - no sentido próprio destes termos: um fazer que vem da origem, e um fazer que liberta, ele mesmo, a origem. Uma origem que não é pois uma idade perdida ou intacta na história humana, mas o encontro dos homens com a sua própria condição de possibilidade, isto é, (...) com a morte que os faz levantar para um segundo e interminável nascimento», acrescentava.

Depois de defender que «a arte faz do dom infinito uma coisa, qualquer coisa», o que signfica que «faz daquilo que é sem-fim uma coisa finita», o texto de apresentação acentua que «para muitos, na verdade, fazer obra talvez seja pouco; e, sobretudo, talvez seja desprovido de efeitos imediatos sobre aquilo que acontece - e está a acontecer - no mundo».



«A "tradição" - no sentido mais ativo e atuante do termo - é uma criação (de sentido) a partir do dom de quem transmite. Quem dá não pode possuir - e inversamente: quem recebe não é um novo proprietário»



«Não o penso assim: num certo sentido, fazer obra já é precisamente fazer tudo - tudo o que nos abre à nossa própria humanidade, quer dizer, à nossa in-humanidade: àquilo que nos excede porque é justamente incomensurável (como escrevia Hölderlin: não é na Terra que existirá "uma medida" para os homens, estes é que devem respeitar a desmedida dos "Celestiais" que os faz virar para a Terra. Nesse respeito e nesse volte-face, aliás, residiam para Hölderlin a nossa condição moderna)», observava.

Para Tomás Maia, «a "tradição" - no sentido mais ativo e atuante do termo - é uma criação (de sentido) a partir do dom de quem transmite. Quem dá não pode possuir - e inversamente: quem recebe não é um novo proprietário. A história - a história da criação (ou a história do "espírito criador", no dizer de Benjamin) - é um dom transmitido que não pertence a ninguém. O artista passa esse dom quando está inspirado» ou «quando cria». «O artista passa um dom que o excede e, por isso, podemos dizer que ele se passa: deixa passar em si aquilo que persiste na obra.»

O colóquio tem lugar no grande auditório da Faculdade de Belas-Artes.



 

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