lolostock/Bigstock.com
A Igreja «incarna-se nos acontecimentos tristes e sofridos das pessoas, curva-se sobre os pobres e sobre quantos estão longe da comunidade eclesial ou se consideram fora dela por causa do seu falhanço familiar», vincou hoje o papa no discurso aos participantes no curso formativo para bispos sobre o novo processo familiar, que decorre até amanhã no Vaticano.
«[Esses cristãos] são e permanecem incorporados a Cristo em virtude do Batismo. Portanto, a nós cabe a grave responsabilidade de exercitar o ministério, recebido de Jesus divino Pastor médico e juiz das almas, de nunca os considerar estranhos ao Corpo de Cristo, que é a Igreja», declarou Francisco.
«Somos chamados a não os excluir do nosso anseio pastoral, mas a dedicarmo-nos a eles e à sua situação irregular e sofrida com toda a solicitude e caridade», afirmou Francisco na visita não previamente anunciada ao Tribunal Apostólico da Rota Romana.
Para o papa, «é preciso eliminar com decisão todo o impedimento de carácter mundano que torna difícil a um largo número de fiéis o acesso aos tribunais eclesiásticos», porque «questões de género económico e organizativo não podem constituir um obstáculo para a verificação canónica sobre a validade de um matrimónio».
Francisco acentuou que «na ótica de uma sã relação entre justiça e caridade, a lei da Igreja não pode prescindir do princípio fundamental da "salus animarum" [salvação das almas], e por isso «os tribunais eclesiásticos são chamados a ser expressão tangível de um serviço diaconal do direito» no que respeita àquele «fim primário».
A salvação das almas das pessoas confiadas à Igreja «constitui o fim de cada ação pastoral», realçou o papa, acrescentando que esse objetivo «é oportunamente colocado como palavra final do Código de Direito Canónico, pelo que o domina como lei suprema e como valor que supera o próprio direito, indicando assim o horizonte da misericórdia».
«Confiai na assistência indefetível do Espírito Santo, que conduz invisivelmente mas realmente a Igreja. Oremos-lhe para que vos ajude e também o sucessor de Pedro a responder, com disponibilidade e humildade, ao grito de muitos nossos irmãos e irmãs que precisam de fazer verdade sobre o seu Matrimónio e sobre o caminho da sua vida», concluiu Francisco.
Recentemente quatro cardeais dirigiram-se por escrito ao papa, pedindo-lhe que clarificasse as suas posições sobre a doutrina relativa ao Matrimónio e aos documentos sobre o tema assinados pelos pontífices anteriores, segundo os quais às pessoas divorciadas que se voltaram a casar é permitido aceder ao sacramento da Comunhão apenas se viverem em regime de castidade.
Esta semana, um dos signatários, o norte-americano D. Raymond Burke, declarou que se Francisco não esclarecesse as posições «controversas» contidas na exortação apostólica "A alegria do amor" ("Amoris laetitia"), colocaria a hipótese de «assumir um ato formal de correção de um erro grave».