Uma Igreja acomodada, sustentada nos bens económicos, que não se expõe ao risco, que expulsa as vozes proféticas do seu interior e desconhece a alegria do anúncio não é de Deus, sublinhou hoje o papa.
Muitos católicos não suportam quem denuncia as «muitas formas de mundanidade» que existem na Igreja e fazem tudo para os afastar das comunidades, acentuou Francisco na missa a que presidiu, no Vaticano.
«Recordo-me na minha terra de muitos, muitos homens e mulheres, bons consagrados, não ideológicos, mas que diziam: "Não, a Igreja de Jesus é assim", "este é comunista, fora", e expulsavam-no, perseguiam-no», apontou o papa, citado pela Rádio Vaticano.
Referindo-se ao assassinato do arcebispo de S. Salvador, em 1980, quando celebrava missa, Francisco afirmou: «Pensemos no Beato Romero, o que lhe aconteceu por dizer a verdade. E muitos, muitos na história da Igreja, inclusive aqui, na Europa. Porquê?».
«Porque o mau espírito prefere uma Igreja tranquila sem riscos, uma Igreja dos negócios, uma Igreja cómoda, na comodidade do torpor, tépida», respondeu, antes de mencionar a influência nociva do dinheiro.
Para Francisco, o «mau espírito entra sempre pelos bolsos»: «Quando a Igreja é tépida, tranquila, toda organizada, não há problemas, olhai para onde estão os negócios», assinalou.
O caminho da «conversão diária é passar de um estado de vida mundano, tranquilo sem riscos», a outro que arraste «a alegria do anúncio» da fé; «de uma religiosidade que olha demasiadamente para os ganhos» a outra que se baseie «na fé e na proclamação» de que «Jesus é o Senhor».
No entender do papa, «uma Igreja sem mártires dá desconfiança; uma Igreja que não arrisca dá desconfiança; uma Igreja que tem medo de anunciar Jesus Cristo e expulsar os demónios, os ídolos, o outro senhor, que é o dinheiro, não é a Igreja de Jesus».
«Que todos nós tenhamos isto: uma renovada juventude, uma conversão do modo de viver tépido ao anúncio jubiloso de que Jesus é o Senhor», concluiu Francisco.