A editora Caleidoscópio lança esta sexta-feira o livro "Igrejas do século XX - Arquiteturas na região de Lisboa", do arquiteto José Manuel Fernandes, professor catedrático de História de Arquitetura.
O arquiteto João Alves da Cunha, membro do Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, fará a apresentação da obra, em sessão marcada para as 17h30 na igreja do Sagrado Coração de Jesus, que se destaca entre os projetos abrangidos pelo volume.
"Do ecletismo do princípio de Novecentos ao Modernismo (1900-1950)", "O pós-Guerra (1950-1965): Da reação neotradicional ao movimento de renovação da arte religiosa/M.R.A.R., génese e afirmação" e "A difusão da arquitetura religiosa moderna" (1965-75)" constituem os temas dos três primeiros capítulos.
As duas restantes secções são dedicadas à "Crise e diversidade na arquitetura religiosa (1975-2000) e à "Situação da transição dos séculos XX-XXI, e outros tema", a que se juntam as fichas de obras, notas biográficas e três circuitos ou roteiros de igrejas, a par da bibliografia.
O estudo, «centrado naturalmente num "olhar arquitetónico" e na dimensão estética e histórica das peças analisadas, não deixou de ter em conta os aspetos de articulação, como os da componente funcional religiosa, os das obras de arte complementares, ou ainda os da relação com os contextos urbanos e com as outras funções dos espaços arquitetónicos», lê-se na introdução.
«De uma forma geral, pode dizer-se que a arquitetura religiosa na área de Lisboa ligada ao Patriarcado - tal como nos restantes espaços do país - assumiu-se em expressão do enraizado catolicismo do país, ganhando no século XX um carácter próprio, traduzindo com grande clareza os valores, as mudanças e os conflitos que atravessaram o território e a sua cultura ao longo desse tempo histórico», assinala o autor.
José Manuel Fernandes nota que «na maior parte das obras projetadas ou realizadas verificou-se um constante conflito entre a ideia do "moderno" e os conceitos-base do espaço religioso, quase sempre de sentido tradicional - muitas vezes numa tensão expressa na oposição entre o espaço interno de expressão longitudinal (cruz latina), na visão tradicionalista, e os espaços mais complexos, centrados ou assimétricos e polifacetados, próprios da modernidade».
Ainda que se trate de um «fenómeno geral», esse conflito assumiu na região de Lisboa «uma intenção e uma duração mais expressivas, em função dos contextos próprios e da evolução da sociedade portuguesa da altura».
«A arquitetura religiosa moderna realizada na área do Patriarcado de Lisboa interessou qualificados arquitetos portugueses - nomeadamente, entre vários, Pardal Monteiro, Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Pedro Vieira de Almeida, Jorge Viana ou João de Almeida», que evoluíram «numa procura de qualificação e de diversificação».
A seleção de obras apresentadas considera «três tipos principais de igrejas: as obras verdadeiramente notáveis; as obras de características ou qualidade mediana; e as obras neovernáculas, algo "kitsch", revelando por vezes alguma inventiva e sabor popular.
O volume «procura descrever e analisar, para além de enquadrar e caracterizar, uma série de exemplos arquitetónicos representativos» das fases enunciadas no índice.
Rui Jorge Martins