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José Marinho: Filosofia em português

Em “Aforismos sobre o Que Mais Importa” escrevia José Marinho: «Ao homem que considera o mistério da vida isso não será inútil se não fica no pávido sentimento de que não compreende, mas se do pressentimento da verdade oculta passa ao esforço por a desvendar e conceber e se da intuição dum ser possível passa ao esforço por o ser (…)».

José Carlos de Araújo Marinho, ou como é comummente conhecido, José Marinho, nasceu no Porto no dia 1 de fevereiro de 1904. Nessa cidade fez o ensino primário e frequentou, entre 1915 e 1920, o Liceu Rodrigues de Freitas. Matricula-se em Filologia Românica na primeira Faculdade de Letras portuense, ao mesmo tempo que frequenta, na mesma instituição, algumas cadeiras do curso de Filosofia. Aí contacta com Leonardo Coimbra, que o orienta definitivamente para a Filosofia, e do qual se torna discípulo.

Durante o tempo em que estuda e permanece na Cidade Invicta, participa nas tertúlias que se faziam nos cafés do Porto, em torno de Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade, Teixeira Rêgo e Luís Cardim, partilhando o ideário da chamada “Renascença Portuguesa”. 

Terminada a Licenciatura em Filologia Românica em 1925, com a tese “Ensaio sobre Teixeira de Pascoaes”, torna-se professor de liceu nas disciplinas de Português, Francês e Filosofia, primeiro no Porto, depois em Faro e finalmente em Viseu. Em 1928, quando é anunciada a extinção da primeira Faculdade de Letras do Porto, e com ela a ambição de José Marinho por uma carreira universitária, vai para Coimbra, onde frequenta a Escola Normal Superior, a fim de se tornar efetivo nos quadros dos professores de liceu.

No ano de 1930, a 30 julho, após ter realizado o estágio pedagógico no Liceu Pedro Nunes em Lisboa, José Marinho é aprovado no Exame de Estado com a tese “Teoria e Metodologia do ensino do Português e do Francês”, obtendo a classificação de 19 valores. Em 1932 termina “Aforismos sobre o Que Mais Importa”, que havia começado no ano de 1924, e dá início a uma obra sobre Leonardo Coimbra.

Em 1936 é afastado do ensino por questões de ordem política. É preso por algum tempo e proibido de lecionar nas escolas oficiais. Durante o tempo da sua docência nunca perdeu o contacto com os círculos de antigos companheiros, especialmente Álvaro Ribeiro, Sant’Ana Dionísio e Adolfo Casais Monteiro, que se juntavam em torno da figura e do pensamento de Leonardo Coimbra. Ainda no Porto colabora com a Revista “Presença”, dirigida por José Régio, e também nas publicações ligadas à “Renascença Portuguesa”, dirigindo a “Princípio” e preparando a nova série de “A Águia”.

No ano de 1940 passa a viver em Lisboa, trabalhando como tradutor e colaborando em jornais e revistas, ao mesmo tempo que dá lições particulares a estudantes de liceu. Na capital volta a estar perto de Álvaro Ribeiro, e com ele anima e participa em tertúlias filosóficas nos cafés da cidade. Nesta altura conclui a obra sobre Leonardo Coimbra que havia começado em 1932, mas que apenas publicará em 1945 sob o título “O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra”. Também em 1940 dá início com Álvaro Ribeiro ao grupo “Filosofia Portuguesa”.

Entre 1947 e 1954 escreve, por sugestão de Hernâni Cidade, “Nova Interpretação do Sebastianismo”. No ano de 1961 publica uma das suas maiores obras, sob o título “Teoria do Ser e da Verdade”, procurando evidenciar os pressupostos ontológicos da Filosofia enquanto processo de libertação espiritual. Em 1963 é convidado por Delfim Santos para integrar o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian, onde permanece até à sua morte.

Em 1964 publica “Elementos para uma Antropologia Situada” e em 1972 apresenta “Filosofia, Ensino ou Iniciação?”.

A 5 de agosto de 1975 morria José Carlos de Araújo Marinho em Lisboa, no Hospital Santa Maria, após longo internamento. Um ano depois era publicada a título póstumo a obra “Verdade, Condição e Destino no Pensamento Português Contemporâneo”.

 

L. Oliveira Marques
© SNPC | 07.06.11

José Marinho























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