

Segundo Piet Mondrian (1872-1944), existem duas inclinações humanas, diametralmente opostas, para produzir arte: uma que é expressão de uma beleza universal e outra que é expressão de uma estética individual (cf. texto "Plastic Art and Pure Plastic Art", 1937).
A primeira inclinação pretende representar uma realidade de forma objetiva, e a segunda de forma subjetiva. Mondrian afirma que toda a história da cultura demonstra que a beleza universal da arte não está associada a uma característica particular da forma, mas sim associada às relações que se estabelecem a um ritmo dinâmico, dos elementos que lhe são inerentes.
Revela também que as formas existem somente para criar novas relações, e que as formas criam relações e as relações criam formas.
Para Mondrian, um dos problemas mais importantes da arte está em atingir um equilíbrio entre o subjetivo e o objetivo. Mas é sobretudo importante encontrar a solução do problema da arte através do ato de fazer, e não do ato de pensar.
O artista deve então ser o mais objetivo possível na representação das formas e das suas relações. E este trabalho nunca será assim vazio, porque a oposição dos elementos construtivos e a sua execução trazem consigo emoções.
A expressão universal só existe através do real equilíbrio entre o universal e o individual. Gradualmente, a arte purifica-se.
Mondrian acredita que a evolução da arte torna o homem consciente para o facto de que o tempo é um processo de intensificação (aprofundamento e não extensão) – uma evolução do individual para o universal, do subjetivo para o objetivo, para revelar a essência das coisas e do homem.
Amar as coisas na realidade significa amá-las profundamente e vê-las como microcosmos inserido no macrocosmos – só assim, segundo Mondrian, é possível atingir a universal expressão da realidade: «A arte - ainda que seja um fim em si mesma, como a religião - é o meio através do qual podemos conhecer o universal».
Mondrian acreditava que a simplicidade deveria ser o estado ideal da humanidade. Graças à teosofia, tomou consciência de que a arte poderia fornecer uma transição para as regiões mais belas pertencentes ao reino espiritual.
A importância da horizontal e da vertical revelada por Helena Petrovna Blavatsky em "Isis Unveiled" (1877) e "The Secret Doctrine" (1888) permitiu a Mondrian apreender a significação mística dos símbolos geométricos, tais como o triângulo e a cruz.
Blavatsky constrói igualmente a teoria do ortogonal, referindo-se à perpendicular celeste e à linha de base terrestre horizontal, e fazendo correspondência à vertical, como princípio masculino, e à horizontal, como princípio feminino. Na visão de Blavatsky, a cruz, interseção de duas linhas, exprime a conceção mística e única da vida e da imortalidade.
Ao encontrar a sua expressão na forma e na cor, isto é, na linha reta e na cor primária claramente definida, Mondrian desejava refletir acerca de uma realidade mais elevada ou uma verdade que transcendesse a natureza, na certeza de que ao prosseguir com esta procura poderia aceder a uma compreensão e a um conhecimento mais sublime (Moszynska, 1998).
Tanto Mondrian como Blavatsky acreditavam que arte e religião caminhavam em direções paralelas, ambas com um principal objetivo, o de transcender a matéria (Golding, 2000).
Ana Ruepp