O papa alertou hoje para a existência de corações de pedra que não deixam entrar a misericórdia de Deus, durante a homilia da missa a que presidiu, no Vaticano, antes de participar em mais uma reunião do Sínodo dos Bispos sobre a Família.
«Não aos ministros da rigidez, o Senhor pede-nos misericórdia», vincou Francisco na homilia, publicada pela Rádio Vaticano, centrada na figura do profeta Jonas, que primeiramente resiste à vontade divina, mas por fim sujeita-se à vontade de Deus, evidenciada na sua misericórdia, que anuncia aos habitantes da cidade de Nínive.
A narrativa de Jonas e Nínive articula-se, segundo o papa, em três capítulos: «A resistência à missão que o Senhor lhe confia»; «a obediência, e quando se obedece, fazem-se milagres»; «a resistência à misericórdia de Deus».
Referindo-se implicitamente ao clero, Francisco evocou as atitudes que, com «dureza», impedem a «misericórdia de Deus»: «É mais importante a minha pregação, são mais importantes os meus pensamentos, é mais importante todo aquele elenco de mandamentos que devo observar, tudo, tudo, tudo é mais importante que a misericórdia de Deus».
«Este drama também Jesus o viveu com os doutores da Lei, que não entendiam porque é que Ele não deixou lapidar aquela mulher adúltera, como é que Ele ia comer com os publicanos e os pecadores: não entendiam. Não entendiam a misericórdia», vincou o papa.
O salmo proclamado nas missas desta terça-feira foi citado por Francisco para evidenciar a compaixão de Deus: «No Senhor está a misericórdia/ e com Ele abundante redenção».
A homilia do papa terminou com uma prece: «Próximos do início do Ano da Misericórdia [8 de dezembro], rezemos ao Senhor para que nos faça entender como é o seu coração, o que significa "misericórdia", o que quer dizer quando Ele diz "quero misericórdia, e não sacrifício"».
«E por isso, na oração coleta da Missa [que conclui os ritos iniciais da celebração e antecede a proclamação das leituras bíblicas] rezámos muito com aquela frase tão bela "infunde sobre nós a tua misericórdia", porque só se entende a misericórdia de Deus quando é derramada sobre nós, sobre os nossos pecados, sobre as nossas misérias», concluiu.
Alessandro Gisotti / Rádio Vaticano