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O milagre do pão partilhado: amar significa dar

Imagem Instituição da Eucaristia (det.) | Nicolas Poussin | 1640 | Museu do Louvre, Paris, França

O milagre do pão partilhado: amar significa dar

«O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: "Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto". Disse-lhes Jesus: "Dai-lhes vós de comer". Mas eles responderam: "Não temos senão cinco pães e dois peixes... Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo". Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: "Mandai-os sentar por grupos de cinquenta". Assim fizeram e todos se sentaram. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.» (Lucas 9, 11b-17, Evangelho da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo)

Festa da vida dada, do Corpo e Sangue a nós dados: participar no Corpo e no Sangue de Cristo transforma-nos naquele que recebemos (cf. S. Leão Magno). Deus está em nós: o meu coração absorve-o, Ele absorve o meu coração, e tornamo-nos num só. O homem é a única criatura que tem Deus no sangue (cf. Giovanni Vannucci), temos em nós um cromossoma divino.

Jesus falava do Reino às multidões, anunciava a boa notícia de que Deus está próximo, com amor, e curava todos os que necessitavam. O Evangelho está repleto de milagres. Jesus toca a carne dos pobres, e eis que a carne curada, olhos novos que se encantam de luz, um paralítico que dança com a sua maca, se tornam como que o laboratório do Reino de Deus, a experimentação de um mundo novo, curado, liberto, que respira.

Os cinco mil à volta de Jesus encantam-se diante deste sonho, e então os doze intervêm: manda-os embora, dentro em pouco está escuro e estamos num lugar deserto. Preocupam-se com as pessoas mas adotam a solução mais infeliz: manda-os embora. Jesus nunca mandou ninguém embora.

O primeiro passo para o milagre, partilha mais do que multiplicação, é uma inesperada inversão que Jesus imprime à direção da narrativa: dai-lhes vós mesmos de comer. Um verbo simples, enxuto, prático: dar.

No Evangelho o verbo amar traduz-se sempre com um outro verbo concreto, factível, de mãos: dar (Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho (cf. João 3, 16), não há maior amor do que dar a vida pelos amigos (cf. João 15, 13).

Os apóstolos não podem, não têm capacidade, só têm cinco pães, um pão para mil pessoas: é pouco, quase nada. Mas a surpresa daquela tarde é que pouco pão partilhado, que passa de mão em mão, se torna suficiente; que o fim da fome não consiste em comer sozinho, vorazmente, o próprio pão, mas em partilhá-lo, distribuindo o pouco que há: dois peixes, o copo de água fresca, azeite e vinho sobre as feridas, um pouco de tempo e um pouco de coração. A vida vive de vida dada.

Todos comeram até à saciedade. Esse "todos" é importante. São crianças, mulheres, homens. São santos e pecadores, sinceros ou mentirosos, ninguém excluído, mulheres da Samaria com cinco maridos e outros tantos divórcios. Ninguém excluído. Pura graça.

É vontade de Deus que a Igreja seja assim: capaz de ensinar, curar, dar, saciar, acolher sem excluir ninguém, capaz como os apóstolos de aceitar o desafio de colocar em comum aquilo que há, de colocar em jogo os seus bens.

Se assim fizéssemos, dar-nos-íamos conta de que o milagre já aconteceu, numa prodigiosa multiplicação: não do pão, mas do coração.

 

Ermes Ronchi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 26.05.2016

 

 
Imagem Instituição da Eucaristia | Nicolas Poussin | 1640 | Museu do Louvre, Paris, França
Todos comeram até à saciedade. Esse "todos" é importante. São crianças, mulheres, homens. São santos e pecadores, sinceros ou mentirosos, ninguém excluído, mulheres da Samaria com cinco maridos e outros tantos divórcios. Ninguém excluído. Pura graça
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