Naquele tempo, Jesus entrou numa sinagoga a um sábado e começou a ensinar. Estava lá um homem com a mão direita paralítica. Os escribas e fariseus observavam Jesus, para verem se Ele ia curar ao sábado e encontrarem assim um pretexto para o acusarem. Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse ao homem que tinha a mão paralítica: «Levanta-te e põe-te de pé, aí no meio». O homem levantou-se e ficou de pé. Depois Jesus disse-lhes: «Eu pergunto-vos se é permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la». Então olhou para todos à sua volta e disse ao homem: «Estende a mão». Ele assim fez e a mão ficou curada. Os escribas e fariseus ficaram furiosos e começaram a falar entre si do que haviam de fazer a Jesus. (Lucas 6, 6-11)
O Evangelho de hoje situa-se no fim de uma série de episódios nos quais Lucas narra a tensão que se cria entre Jesus de um lado, e escribas e fariseus da outra, tensão gerada pela liberdade e autoridade com que Jesus fala e age, tensão que conduzirá à decisão de fazer alguma coisa a Jesus (Marcos, no seu Evangelho, será mais preciso e dirá, em 3,6: «Os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus»).
Em todos estes textos dos capítulos 5 e 6 são colocados em confronto duas diferentes tipologia de olhar: por um lado há o olhar de Jesus, que vê o sofrimento dos humanos, prisioneiros da doença ou do pecado, um olhar que é narração do olhar de Deus, que vê o sofrimento de Israel no Egito e dele cuida (cf. Êxodo 2,25), olhar que impele Jesus a agir em favor destas pessoas, libertando-as e restituindo-as a uma plenitude de vida e de dignidade, pagando o alto preço de carregar as suas dores e de morrer de morte ignominiosa.
Do outro lado encontramos, ao invés, o olhar de quem se sente detentor da Lei e da sua interpretação, mas que na realidade dela observa a letra, perdendo completamente o seu espírito, tornando-se, assim, incapaz de distinguir o que dá vida do que gera a morte, e esquecendo que Deus deu a Lei a Israel para que vivesse e fosse feliz (cf. Deuteronómio 5, 32-33).
Jesus vê, age, liberta; os fariseus veem, julgam, decretam a morte. E o nosso olhar, de que qualidade é?
Mas há outra diferença entre estes olhares: enquanto os fariseus observam Jesus para depois armarem um conluio contra Ele, Jesus discerne os pensamentos ocultos do coração, lê em profundidade os olhares dos outros sobre Ele e nunca renuncia a ser um apelo eloquente e claro à conversão. Jesus tem um olhar límpido e por isso sabe agir à luz, enquanto os seus adversários têm um olhar turvo e por isso agem às escondidas e nas trevas.
O nosso comportamento para com os outros revela a qualidade do nosso olhar, e este último é por sua vez espelho do nosso coração: podemos olhar os outros para os controlar e julgar, ou podemos olhar os outros com benevolência, querendo o seu bem e agindo em consequência.
Deus nos ensine a colocar no centro aqueles que se encontram às margens (para os acolher, não para os julgar), eduque o nosso coração a fim de que o nosso olhar saiba discernir o caminho do amor, e o nosso agir tente ser ato de libertação dos outros, na luz e na alegria partilhadas.
Ir. Ilaria