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O primeiro livro de José Tolentino Mendonça

Imagem Paulinas | D.R.

O primeiro livro de José Tolentino Mendonça

Publiquei o meu primeiro livro há 25 anos, em 1990. Foi um ano intenso, que procurei viver como se não fosse: entre tantas outras coisas estava a estudar no estrangeiro nessa altura, fui ordenado padre e publiquei o meu primeiro livro. O título que encontrei tinha um claro endereço bíblico: «os dias contados». E o volume abria com uma epígrafe do livro da Sabedoria: «ensinai-nos a contar os nossos dias/ para guiarmos o coração na sabedoria». Gostava do duplo sentido desse contar: tanto podia ser o exercício convivial do mero relato como a evidência de que somos mortais. Essa mistura de possibilidades sempre me acompanhou. Não como um poder, mas como uma pobreza, uma expressão do desejo.

Publiquei os meus primeiros poemas no suplemento juvenil do Diário de Notícias, o "DN/Jovem". Foi para a minha geração um espaço muito importante. Depois, na Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia, tive o projeto de uma revista de poesia, a Salém, partilhando a coordenação com a Isabel Salvador. Editamos quatro números. Por essa altura, conheci o poeta João Miguel Fernandes Jorge, que me correspondeu com exemplar generosidade. E escolhi fazer a tese de licenciatura em Teologia sobre a saudade de Deus em Ruy Belo. Foi uma aprendizagem. Os poemas iam acontecendo, não sei bem se à maneira do nadador que suprime a respiração ou daquele que finalmente respira.

Na Madeira não existiam propriamente editoras, situação que se mantém. Apenas a Direção Regional de Cultura tinha uma chancela, onde publicava coisas diversas, sobretudo no domínio da história insular, mas também alguma poesia. Eu não tinha qualquer referência. Em 1989, marquei uma entrevista com a diretora desse serviço para apresentar-lhe o volume de originais. O livro esperou para ser avaliado por um conselho consultivo e, passados meses, telefonei para lá e responderam-me positivamente. Correu como um processo completamente anónimo, até um bocado burocrático. Pedi depois ao João Miguel Fernandes Jorge que escrevesse um texto prefacial. E à poeta Teresa M.G. Jardim que me oferecesse uma das suas imagens para a capa.

Houve, em setembro de 1990, uma sessão de apresentação do livro no Funchal. Um dos intervenientes na apresentação foi o Edgar Silva, que falou da importância da poesia na construção da cidade. Eu ouvia-o com encantamento e surpresa. A poesia é desconhecer mesmo o que se sabe.

 

José Tolentino Mendonça
In "Jornal de Letras", 7.1.2015
Publicado em 08.01.2015

 

 
Imagem Paulinas | D.R.
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