Em que é que se tornou o cristianismo ao adaptar-se ao mundo? Até que ponto ele o transformou ou por ele foi corrompido? Esquecemos que o cristianismo começou da Cruz. Mas porque é que continuamos a chamar-nos cristãos? Em que é que se tornou a Cruz para os cristãos de hoje? Um objeto ornamental.
A 19 de maio de 1296 morria no castelo de Fumone, atual Itália, para onde tinha sido segregado por Bonifácio VIII, Pedro Morrone, o eremita que se tornou papa em 1294 com o nome de Celestino V e que bem depressa se retirou dessa missão por a ter sentido demasiado pesada.
O cristianismo, precisamente por ser religião da Incarnação, deve entrar na história, adaptar-se aos tempos, compreender as instâncias, adotar a sua linguagem. Mas nesta obra de atualização é fácil fazer desvanecer o tom de fundo, desvigorar a energia do Evangelho, eliminar o escândalo da Cruz, reduzindo-a a «objeto ornamental».
Sabemos o quanto S. Paulo foi severo precisamente para «não esvaziar de eficácia a Cruz de Cristo», esse Cristo crucificado que é «escândalo para os judeus e loucura para os gentios» (1 Coríntios 1, 17.23).
Também Jesus tinha advertido os seus discípulos: «Vós sois o sal da Terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens» (Mateus 5, 13).
P. [Card.] Gianfranco Ravasi