Fé e cultura
Do templo para a praça
A relação do cristianismo com o espaço público é-lhe genética, e foi aí que ele primeiro se formulou. Um dos espantos na novidade que Jesus introduz face aos sistemas religiosos do tempo (primeiro o judeu e depois o helenístico-romano) é também o da produção e inscrição de uma experiência crente que deixa de ser exclusiva do espaço sagrado.
Quem lê os quatro relatos evangélicos rapidamente se apercebe, por exemplo, que Jesus desenvolve o seu percurso de modo ex-cêntrico em relação ao Templo (e claramente essa escolha revela a pretensão de superar o próprio Templo), elegendo espaços religiosamente neutrais, como a praça, a margem, o caminho, a casa, que são o lugar, por excelência, da coreografia humana com a qual o cristianismo dialoga.
Na mesma linha, havemos de acompanhar Paulo de Tarso que prega tanto numa sinagoga, como numa escola de filosofia ou num teatro.
É verdade que a Modernidade parece determinar uma recomposição do lugar público concedido ao religioso. Mas a Igreja não desiste de estar presente e de dialogar com a cultura. O mandato evangélico que institui a Igreja é um imperativo de construir uma presença cordial de esperança na itinerância do mundo.
José Tolentino Mendonça
In Observatório da Cultura n. 14 (Novembro 2010)
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08.11.10

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