Política
Encontrar lugar para Deus na esfera pública
Na edificação da comunidade, no desenho público de projetos ou políticas, ninguém é dispensável, o que quer dizer que na construção comum todos temos uma responsabilidade indeclinável. Se não a assumimos, o que não fizermos, fica por assumir e por fazer e a sociedade mais pobre e vulnerável.
Há pois uma intimação perentória para que cada um reconheça como imprescindível a sua assumpção cidadã na influência de objetivos, metas, estratégias e resultados que determinam a vida da sociedade. Vida que se forma e modela pelo compromisso individual de cada um, num trabalho em uníssono, comprometido por valores espirituais informadores e estruturantes, sem os quais aliás, não é concebível qualquer ação.
Valores que traduzem um mandato de serviço ao outro e à construção comum, que derivam de um conjunto de bens fundamentais: o amor, sem o qual não se compreende nem a compaixão, nem a entreajuda, nem a solidariedade, nem tão pouco o sentido de serviço; a verdade, na fidelidade aos princípios referenciais e às obrigações que se vão contraindo, para que se não esvaia a confiança sem a qual não há coesão nem construção social; a justiça garante do respeito pela vida e da dignidade humana, promotora da liberdade e da igualdade; a responsabilidade para connosco e para com os outros, que determina o que temos que fazer e que temos que fazer bem, aqui e agora.
Cabe-nos encontrar lugar para Deus “na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, económica e particularmente política” (Caritas in veritate, 56). Há um dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa e em paz, em coerência com a fé, contra a indiferença, olhando e ouvindo a humanidade, alicerçado num estudo permanente e numa competência profissional, movido pelo sentido de serviço. Mas assumindo a diferença: não se trata de uma política cristã, mas de cristãos na vida política cuja missão é o testemunho e o compromisso na busca constante da verdade e da justiça, da construção do bem comum. Do trabalho de cada um, será contada a história de cada geração.
Maria do Rosário Carneiro
Deputada
In Observatório da Cultura, n.º 14 (Novembro 2010)
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06.11.10








