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Onde está o teu tesouro?

A Cáritas Portuguesa lançou este mês o segundo número da segunda série da sua revista, onde lemos a história de um homem que deixa tudo para procurar de um tesouro.

A narrativa, e as conclusões que dela se podem extrair, constituem o editorial desta edição, assinado pelo diretor da revista e diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social, padre José Manuel Pereira de Almeida.

A revista "Cáritas" é uma extensão do trabalho da organização católica ao nível mundial, que visa refletir os valores cristãos expressos nas diversas ações que desenvolve (veja, no fim do texto, "Ligações e contactos").

 

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P. José Manuel Pereira de Almeida

Atrevo-me a trazer-vos mais uma história contada pelo filósofo Martin Buber (1878-1965) que escolhi para companhia neste ano de 2013, no 135º aniversário do seu nascimento: a do Rabi Eisik, filho do Rabi Jekel de Cracóvia, história que o Rabi Bunam contava habitualmente aos jovens que vinham ter com ele pela primeira vez:

«Depois de anos e anos de dura miséria que, no entanto, não tinham beliscado a sua confiança em Deus, Eisik teve em sonhos a ordem de ir a Praga buscar um tesouro que estava enterrado debaixo da ponte do palácio real. Como o sonho se repetiu por três vezes, pôs-se a caminho e andou, andou, andou até que chegou a Praga.

Mas a ponte era vigiada dia e noite pelas sentinelas que guardavam o palácio… E Eisik não teve coragem de escavar no local indicado. Todavia, voltava à ponte todas as manhãs e ficava ali às voltas até ao entardecer. Um dia, o capitão da guarda, que tinha notado as suas idas e voltas, aproximou-se e perguntou-lhe simpaticamente se tinha perdido alguma coisa ou se estava à espera de alguém.

Eisik contou-lhe então o sonho que o tinha trazido da sua longínqua terra até ali. E o capitão desatou a rir: “E tu, pobre homem, por dar crédito a um sonho vieste a pé até aqui? Ah, ah, ah! Estás arrumado se te fias em sonhos! Se fosse assim, eu havia de me ter metido a caminho para obedecer a um sonho e ir até Cracóvia, a casa de um judeu, um tal Eisik, filho de Jekel, à procura de um tesouro que está enterrado debaixo do fogão de sua casa. Eisik, filho de Jekel! Deves estar a brincar! Estou a ver-me a entrar e a vasculhar em todas as casas de uma cidade em que metade dos judeus se chamam Eisik e a outra metade Jekel?!” E riu-se novamente.

Eisik agradeceu, saudou-o, voltou para casa e, na sua casa, escavou debaixo do fogão e desenterrou o tesouro com que construiu a sinagoga chamada “Escola de Reb Eisik, filho de Reb Jekel”.

“Recorda-te bem desta história – acrescentava então o Rabi Bunam – e colhe a mensagem que te diz respeito: há uma coisa que não podes encontrar em lado nenhum no mundo e que, no entanto, existe num lugar”».

Martin Buber sublinha o facto de que não há uma “moral da história”. Pelo contrário. Abrem-se percursos para podermos descobrir o seu significado autêntico.

Que direi, então, agora?

Que há uma coisa que se pode encontrar num único lugar do mundo. É um grande tesouro. Podemos chamar-lhe o cumprimento da existência. E o único lugar em que este tesouro se encontra é o lugar em que nós nos encontramos.

A maior parte de nós só em raros momentos é capaz de atingir uma consciência clara do facto de que não saboreamos o cumprimento da existência. De que a nossa vida pode não participar da existência autêntica, realizada. Que é vivida como que nas margens da existência autêntica.

E, no entanto, não deixamos de captar essa falta.

Esforçamo-nos sempre (ou quase sempre), de uma maneira ou de outra, por encontrar o que falta. O que nos falta…

Pode parecer-nos que o encontraremos nalguma parte… Numa qualquer zona do mundo… Em todo o lado, menos no local em que estamos. O lugar a que chamamos "aqui".

Mas é mesmo aqui, e em nenhum outro lado, que se encontra o tesouro.

No meu ambiente natural, na situação que me tocou em sorte, naquilo que me acontece dia após dia, naquilo que a vida quotidiana me pede. É mesmo nisto que reside a minha tarefa existencial, aí se encontra o cumprimento da minha existência. À mão de semear. À minha medida.

É debaixo do fogão de nossa casa que se encontra o nosso tesouro.

 

Esta transcrição omite as notas de rodapé.

 

P. José Manuel Pereira de Almeida
Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social
In Revista "Cáritas", setembro 2013
26.09.13

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