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Oração e transfiguração: Meditação sobre o Evangelho do 2.º Domingo da Quaresma

Imagem Transfiguração (det.) | Sandro Botticelli | D.R.

Oração e transfiguração: Meditação sobre o Evangelho do 2.º Domingo da Quaresma

Se o primeiro Domingo da Quaresma nos apresentou Jesus em confronto com a tentação, face a face com Satanás na solidão do deserto, este segundo Domingo mostra-nos Jesus que conhece a transfiguração do seu rosto e de toda a sua pessoa, tornando-se participante da indizível glória do Pai. No itinerário quaresmal, a transfiguração de Jesus indica o fim a que tende este caminho: a ressurreição, de que a transfiguração é antecipação e profecia.

Alguns dias depois de ter anunciado aos seus discípulos a necessidade da sua morte e ressurreição (cf. Lucas 9, 22) e de lhes ter exposto com clareza as condições para o seguir nesse caminho (cf. Lucas 9, 23-26), Jesus «levando consigo Pedro, João e Tiago» – os discípulos que lhe eram mais íntimos – «subiu ao monte para orar». Lucas é o evangelista que mais insiste na oração de Jesus: Ele reza no momento do batismo recebido de João (cf. Lucas 3, 21), reza antes de escolher os Doze (cf. Lucas 6, 12-13), reza na iminência da sua paixão (cf. Lucas 22, 39-46)...

Também a transfiguração de Jesus ocorre no contexto da sua oração, no mistério do seu encontro pessoalíssimo com o Pai: «Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se». A oração é para Jesus espaço de acolhimento em si da presença de Deus. Presença que é santidade, isto é, alteridade capaz de transfigurar aquele que aceita acolhê-la radicalmente na sua vida. A alteração no rosto de Jesus manifesta que agora ele narra o rosto invisível de Deus (cf. João 1, 18). A oração, além disso, é comunicação de Deus a Jesus mediante a sua “conversação” com Moisés e Elias, que personificam a Lei e os Profetas, ou seja, a Escritura do Antigo Testamento.

Sim, a oração de Jesus é essencialmente escuta da Palavra de Deus contida na Escritura, uma escuta que se torna encontro com quem é vivente em Deus, uma verdadeira experiência da comunhão dos santos. É nesta oração que Jesus encontra a confirmação do seu caminho, orientado agora para a paixão, morte e ressurreição, em continuidade com a história da salvação conduzida por Deus com o seu povo. É por isso que Moisés e Elias «falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém». Não por acaso, pouco depois especifica-se que Jesus voltará resolutamente o seu rosto e os seus passos para a cidade santa (cf. Lucas 9, 51), decidido a viver o que na oração compreendeu ser a sua missão.

«Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele.» Mas esta experiência extraordinária, que custa o preço da luta para permanecer vigilante, dura um momento: a transfiguração de Jesus é antecipação da comunhão que espera todos os homens no Reino, é a primícia do mundo completamente sujeito ao sinal da beleza de Deus; mas precisamente é só uma primícia... É por isso que enquanto Pedro, sem saber verdadeiramente aquilo que diz, pede a Jesus para prolongar essa experiência através da construção de três tendas, a nuvem da presença de Deus envolve-os, e dela vem uma voz que proclama: «Este é o meu Filho predileto. Escutai-o».

O grande mandamento «escuta Israel» (Deuteronómio 6, 4) agora ressoa como «escutai-o, o Filho», a Palavra feita carne em Jesus (cf. João 1, 14), o homem no qual a Escritura encontra o seu cumprimento (cf. Lucas 24, 44). Eis o essencial da nossa fé!

O Evangelho deste Domingo coloca-nos portanto em guarda: Jesus não pode ser a projeção dos nossos desejos mas é o Jesus Cristo segundo as Escrituras, e para o conhecer é preciso escutar, meditar e rezar a Palavra contida em toda a Escritura. Tudo isto tendo consciência de que a oração não nos dispensa do esforço quotidiano da obediência a Deus através de Jesus Cristo, ou seja, do cumprimento da nossa vocação pessoal; pelo contrário, a oração ajuda-nos a preencher essa vocação de sentido porque transfigura os acontecimentos e as relações de todos os dias. Foi assim com Jesus, pode ser assim também para nós.

 

Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose
In Mosteiro de Bose
Publicado em 27.02.2015

 

 
Imagem Transfiguração | Sandro Botticelli | D.R.
A oração é para Jesus espaço de acolhimento em si da presença de Deus. Presença que é santidade, isto é, alteridade capaz de transfigurar aquele que aceita acolhê-la radicalmente na sua vida
O Evangelho deste Domingo coloca-nos em guarda: Jesus não pode ser a projeção dos nossos desejos mas é o Jesus Cristo segundo as Escrituras, e para o conhecer é preciso escutar, meditar e rezar a Palavra contida em toda a Escritura
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