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Papa peregrina às fronteiras da Europa

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Papa peregrina às fronteiras da Europa

A viagem relâmpago de três dias e duas noites que o papa inicia esta sexta-feira ao Cáucaso levá-lo-á à Geórgia e Azerbaijão, completando a peregrinação iniciada em junho na Arménia.

Inicialmente a viagem tinha sido planeada como um todo, mas a coincidência com o concílio panortodoxo em Creta obrigou a dividi-la em duas, para não dificultar a presença do patriarca georgiano Elias II no grande sínodo, já que o bispo de Roma não poderia visitar um país de antiquíssima tradição cristã sem a presença da cabeça da Igreja mais importante.

Elias II viria a ser um dos patriarcas que, juntamente com o de Moscovo, Cirilo, decidiram, quase em cima do concílio, não ir a Creta. Mas entretanto o calendário da viagem papal dividida em duas etapas estava estabelecido.

A viagem à fronteira entre a Europa e a Ásia insere-se na tipologia das deslocações de Francisco no Velho Continente: países pequenos, ainda feridos por conflitos, onde o papa espera encorajar caminhos de reconciliação e de paz. Países onde os católicos são um "pequenino rebanho" mas nos quais convivem com outras confissões cristãs e com outras religiões.

A peregrinação à Geórgia e Azerbaijão, como já tinha sido a da Turquia, toca também o drama dos refugiados em fuga do autoproclamado Estado Islâmico. O papa partilhará o sofrimento dos cristãos iraquianos esta sexta-feira ao entardecer, em Tbilisi, na igreja assírio-caldeia dedicada a Simão bar Sabbae.

A visita também evoca o drama de outros refugiados, obrigados a abandonar as zonas de fronteira com a Federação Russa depois dos confrontos que viram os tanques de Moscovo entrar na Geórgia em 2008. E há ainda uma ferida aberta: o conflito entre Azerbaijão e a Arménia pelo controlo da região de Nagorno Karabakh.

«Acolhi o convite a visitar estes países» - explicava o papa em junho - «por um duplo motivo: por um lado, valorizar as antigas raízes cristãs presentes naquelas regiões, sempre em espírito de diálogo com as outras religiões e culturas, e por outro encorajar esperanças e sentimentos de paz».

«A história ensina-nos que o caminho da paz requer uma grande tenacidade e passos contínuos, começando pelos pequenino e, aos poucos, fazendo-os crescer, indo um ao encontro uns dos outros. Precisamente por isto o meu desejo é que todos e cada um deem o próprio contributo para a paz e a reconciliação», sublinhou.

O Secretário de Estado da Santa Sé comenta: «É muito fácil observar no papa um vivíssimo desejo de ser portador de paz, onde quer que vá. Neste sentido, também as situações políticas ou os planos estratégicos passam, por assim dizer, para segundo plano».

«No caso concreto, não penso que se possa prever uma solução fácil de todas as problemáticas que dizem respeito à região do Cáucaso. Elas precisam de esforço, de vontade política e de disponibilidade para o compromisso. Mas o papa Francisco dirige-se aos países do Cáucaso com grande humildade, procurando antes de tudo escutar, compreender e, consequentemente, encorajar toda a iniciativa de diálogo e de abertura para com o outro», declara o cardeal Pietro Parolin.

Já durante o encontro ecuménico e a oração pela paz em Erevan, capital da Arménia, a 25 de junho, Francisco evocou o conflito em Nagorno Karabakh, desejando uma solução pacífica. As hostilidades reacenderam-se em abril, e os membros do Grupo de Minsk, criado pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) procuram relançar iniciativas para um compromisso capaz de conduzir finalmente à paz.

Geórgia e Azerbaijão, como também a Arménia, faziam parte do império soviético, e a Federação Russa tenta conservá-los na sua órbita ou, pelo menos, impedir que outros países a puxem para a sua.

A viagem, especialmente na sua primeira etapa de dois dias na Geórgia, tem importantes implicações ecuménicas. A Igreja ortodoxa georgiana, com a qual a Santa Sé mantém boas relações, está entre as poucas que não reconhecem a validade do Batismo administrado pelos católicos. Francisco e Elias II abraçar-se-ão, mas não rezarão juntos.

O patriarca dos ortodoxos georgianos não participa pessoalmente na missa celebrada por Francisco no sábado, mas decidiu enviar uma delegação, sinal considerado importante pelo Vaticano.

A deslocação à Geórgia é uma viagem às raízes cristãs da Europa: o cristianismo foi declarado religião de Estado em 337, e a Igreja georgiana proclamou-se autocéfala, tornando-se autónoma do patriarcado de Antioquia desde o séc. IV.

O Azerbaijão é um país de esmagadora maioria muçulmana (96%), composta por 63% de xiitas e 33% de sunitas. E atrai a atenção não só do vizinho Irão, mas também dos países árabes interessados em introduzir a componente fundamentalista do islão.

Com esforços notáveis as autoridades civis e religiosas do país tentaram de todas as formas distinguir a esfera estatal da confessional, resistindo às infiltrações radicais promovidas, por vários motivos, por países vizinhos e correligionários, inclusive os do Cáucaso do norte.

A presença do papa, que encontrará os líderes das religiões no domingo à tarde, constituirá por isso um encorajamento a este caminho de multiculturalidade e tolerância, diariamente ameaçado por um mundo em tumulto pela «terceira guerra mundial em pedaços», na qual se procura disfarçar, através de motivações religiosas, interesses económicos e políticos.

Com esta viagem, o papa «prossegue a sua aproximação "periférica" à Europa, que já o levou a Lampedusa, Tirana, Sarajevo, Lesbos, Erevan, e que em breve o conduzirá a Lund [Suécia]», assinala o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

«É destas regiões muito diferentes entre si, mas todas situadas nas fronteiras da Europa, regiões em que se entretecem os desafios da nossa época e em que os católicos são muitas vezes minoritários, que o pontífice olha o continente», escreve o cardeal Kurt Koch na edição desta quinta-feira do jornal "L'Osservatore Romano".

 

Andrea Tornielli
In "Vatican Insider"
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 29.09.2016 | Atualizado em 19.04.2023

 

 

 
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O Azerbaijão é um país de esmagadora maioria muçulmana (96%), composta por 63% de xiitas e 33% de sunitas. E atrai a atenção não só do vizinho Irão, mas também dos países árabes interessados em introduzir a componente fundamentalista do islão
A presença do papa, que encontrará os líderes das religiões no domingo à tarde, constituirá por isso um encorajamento a este caminho de multiculturalidade e tolerância, diariamente ameaçado por um mundo em tumulto
Com esta viagem, o papa «prossegue a sua aproximação "periférica" à Europa, que já o levou a Lampedusa, Tirana, Sarajevo, Lesbos, Erevan, e que em breve o conduzirá a Lund [Suécia]»
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