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Papa sublinha que misericórdia é o caminho para abraçar o mundo e alerta Igreja para preconceitos contra mulheres

Imagem Cristo cura uma mulher com fluxo de sangue (det.) | Veronese | National Gallery, Londres, Inglaterra

Papa sublinha que misericórdia é o caminho para abraçar o mundo e alerta Igreja para preconceitos contra mulheres

O papa retomou hoje, no Vaticano, as catequeses sobre a misericórdia que profere nas audiências-gerais da quarta-feira, depois de na última semana ter cancelado a sua intervenção, substituindo pela oração pelas vítimas do sismo que atingiu Itália.

Francisco meditou sobre o excerto do Evangelho em que uma mulher afligida por uma hemorragia que durava há 12 anos se aproximou por trás de Jesus e lhe tocou na orla do manto, convicta de que com este gesto poderia ser curada, o que veio a acontecer depois de ouvir as palavras de Cristo: «Tem confiança, a tua fé te salvou» (Mateus 9, 20-22).

«Jesus, mais uma vez, com o seu comportamento cheio de misericórdia, indica à Igreja o percurso a cumprir para ir ao encontro de cada pessoa, para que cada uma possa ser curada no corpo e no espírito e recuperar a dignidade de filho e filha de Deus», afirmou o papa.

Francisco acentuou também que este trecho bíblico coloca tos em guarda, «inclusive a comunidade cristã, contra visões da feminilidade desvirtuadas por preconceitos e suspeitas lesivas da sua intangível dignidade».

Excertos da catequese:

«Quanta fé tinha esta mulher! Raciocina assim [pensando que ao tocar no manto de Jesus seria curada] porque é animada por muita fé e muita esperança e, com um toque de astúcia, realiza quanto tem no coração.

O desejo de ser salva por Jesus é tal que a faz ir além das prescrições estabelecidas pela lei de Moisés. Esta pobre mulher de muitos anos não está simplesmente doente, mas é considerada impura porque atingida por hemorragias. É por isso excluída da liturgia, da vida conjugal, das normais relações com o próximo.

O evangelista Marcos acrescenta que ela tinha consultado muitos médicos, recorrendo aos seus meios para lhes pagar e suportando tratamentos dolorosos, mas só tinha piorado. Era uma mulher descartada pela sociedade. É importante considerar esta condição – descartada – para compreender o seu estado de ânimo: ela sente que Jesus pode libertá-la da doença e do estado de marginalização e de indignidade em que se encontra há anos. Numa palavra: sabe e sente que Jesus a pode salvar.

Este caso faz refletir sobre como a mulher será muitas percecionada e representada. Todos somos postos em guarda, inclusive a comunidade cristã, contra visões da feminilidade desvirtuadas por preconceitos e suspeitas lesivas da sua intangível dignidade. Nesse sentido são precisamente os Evangelhos a restabelecer a verdade e a reconduzi-la a um ponto de vista libertador.

Jesus admirou a fé desta mulher que todos evitavam e transformou a sua esperança em salvação. Não sabemos o seu nome, mas as poucas linhas com que os Evangelhos descrevem o seu encontro com Jesus delineiam um itinerário de fé capaz de restabelecer a verdade e a grandeza da dignidade de cada pessoa. No encontro com Cristo abre-se para todos, homens e mulher de cada lugar e de cada tempo, a via da libertação e da salvação.

O Evangelho de Mateus diz que quando a mulher tocou o manto de Jesus, Ele “se voltou” e “a viu”, e portanto dirige-lhe a palavra. Como dizíamos, por causa do seu estado de exclusão, a mulher agiu às escondidas, nas costas de Jesus, estava algo receosa, para não ser vista. Jesus, ao invés, vê-a e o seu olhar não é de reprovação (…), mas de misericórdia e ternura. Ele sabe o que aconteceu e procura o encontro pessoal com ela, encontro que no fundo a própria mulher desejava. Isto significa que Jesus não só a acolhe mas a considera digna de tal encontro, ao ponto de lhe fazer dom da sua palavra e da sua atenção.

Na parte central da narrativa o termo salvação ocorre três vezes: “Se conseguir apenas tocar o seu manto, serei salva. Jesus voltou-se, viu-a e disse: ‘Coragem, filha, a tua fé te salvou!’. E a partir daquele instante a mulher foi salva”. Este «coragem, filha» exprime toda a misericórdia de Deus por aquela pessoa. (…)

Depois, a “salvação” assume múltiplas conotações: antes de tudo restitui a saúde à mulher; depois liberta-a das discriminações sociais e religiosas; além disso, realiza a esperança que ela trazia no coração, anulando os seus medos e o seu desconforto; por fim, restitui-a à comunidade, libertando-a da necessidade de agir às escondidas. (…)

A salvação que Jesus dá é total, reintegra a vida da mulher na esfera do amor de Deus e, ao mesmo tempo, restabelece-a na sua plena dignidade.

Em resumo, não é o manto que a mulher tocou a dar-lhe a salvação, mas a palavra de Jesus, acolhida na fé, capaz de a consolar, curar e restabelece-la na relação com Deus e com o seu povo.

Jesus é a única fonte de bênção de quem brota a salvação para todos os homens, e a fé é a disposição fundamental para a acolher. Jesus, mais uma vez, com o seu comportamento cheio de misericórdia, indica à Igreja o percurso a cumprir para ir ao encontro de cada pessoa, para que cada uma possa ser curada no corpo e no espírito e recuperar a dignidade de filho e filha de Deus.»

 




 

Rui Jorge Martins
Publicado em 30.08.2016

 

 
Imagem Cristo cura uma mulher com fluxo de sangue (det.) | Veronese | National Gallery, Londres, Inglaterra
Jesus admirou a fé desta mulher que todos evitavam e transformou a sua esperança em salvação. Não sabemos o seu nome, mas as poucas linhas com que os Evangelhos descrevem o seu encontro com Jesus delineiam um itinerário de fé capaz de restabelecer a verdade e a grandeza da dignidade de cada pessoa. No encontro com Cristo abre-se para todos, homens e mulher de cada lugar e de cada tempo, a via da libertação e da salvação
Não é o manto que a mulher tocou a dar-lhe a salvação, mas a palavra de Jesus, acolhida na fé, capaz de a consolar, curar e restabelece-la na relação com Deus e com o seu povo
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