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Recusar a multiplicidade de imagens de Deus que se formam a nível pessoal e na sociedade, amar as feridas de Cristo e da humanidade e estar disposto a perder a vida constituem as coordenadas da «bússola do cristão», frisou hoje o papa, no Vaticano.
Na homilia da missa do segundo dia da Quaresma a que presidiu, Francisco sublinhou que «não há Deus sem Cristo», porque «um deus sem Cristo, desencarnado, é um deus não real», refere a Rádio Vaticano.
«A realidade de Deus é Deus feito Cristo, por nós. Para salvar-nos. E quando nos afastamos disto, desta realidade, e nos afastamos da Cruz de Cristo, da verdade das chagas do Senhor, afastamo-nos também do amor, da caridade de Deus, da salvação, e percorremos uma estrada ideológica de Deus, distante: não é Deus que vem a nós e se fez próximo para nos salvar, e que morreu por nós. Esta é a realidade de Deus», afirmou.
O papa citou o diálogo entre um agnóstico e um crente, narrado por um escritor francês do século passado: «O agnóstico de boa vontade perguntava ao crente: "Mas como posso... Para mim, o problema é como Cristo é Deus, não posso compreender isso. Como é que Cristo é Deus?". E o crente responde: "Para mim, isso não é um problema. O problema seria se Deus não se tivesse feito Cristo"».
«Esta é a realidade de Deus, Deus feito Cristo, Deus feito carne, e este é o fundamento das obras de misericórdia. As chagas dos nossos irmãos são as chagas de Cristo, são as chagas de Deus, porque Deus se fez Cristo», declarou Francisco, acrescentando: «Não podemos viver a Quaresma sem esta realidade. Devemo-nos converter não a um Deus abstrato, mas ao Deus concreto que se fez Cristo».
Depois de Deus e do homem, o mapa cristão aponta para uma terceira coordenada, segundo as palavras de Cristo proclamadas nas missas desta quinta-feira: «Se alguém quiser vir após mim, renegue-se a si próprio, tome a sua cruz a cada dia e siga-me» (Lucas 9, 22-25).
«A realidade do caminho é a de Cristo: seguir Cristo, fazer a vontade do Pai, como Ele, tomar as cruzes de cada dia e renegar-se a si próprio para seguir Cristo. Não fazer aquilo que quero, mas aquilo que quer Jesus; seguir Jesus. E Ele diz que nesta estrada nós perdemos a vida, para a ganhar depois», assinalou.
Trata-se, prosseguiu Francisco, de um «contínuo perder a vida, perder fazer aquilo que eu quero, perder a comodidade, estar sempre na estrada de Jesus que estava ao serviço dos outros, à adoração de Deus. Esta é estrada justa», porque «o único caminho seguro é seguir Cristo crucificado, o escândalo da Cruz».
A Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina pela tarde de Quinta-Feira Santa, antes da missa da Ceia do Senhor, celebração que constitui o prólogo do Tríduo Pascal (Sexta e Sábado santos e Domingo de Páscoa), ponto culminante do ano litúrgico cristão.