O Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese de Bragança-Miranda homenageia a 25 de março o arquiteto responsável pelo projeto e obra da catedral diocesana, Luís Vassalo Rosa.
«Processo polémico, a ponto de ser denominado “O caso do concurso da Sé de Bragança”, muito se disse, muito se especulou. Agora, de viva voz, Vassalo Rosa irá satisfazer a curiosidade dos bragançanos», anuncia uma nota enviada hoje ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
A diretora do Secretariado Diocesano explica que a intenção da iniciativa, que conta com a presença do bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro, «é dar a oportunidade aos mais curiosos de perguntarem e ouvirem resposta de viva voz sobre o que aconteceu e como aconteceu».
Para Fátima Pimparel, a sessão visa esclarecer os «mitos» que envolveram a construção da sé, mas «configura sobretudo uma homenagem ao arquiteto e ao homem Vassalo Rosa pela marca indiscutível que deixou na diocese».
«Depois de mais de 50 anos de profissão, sendo muitos deles dedicados à nossa Catedral urge uma homenagem pública, da diocese e dos diocesanos no espaço que também lhe pertence. Na catedral respira-se Vassalo Rosa. Queremos ouvir e perguntar, mas queremos sobretudo homenagear e agradecer», sublinha a responsável.
O encontro foi pensado «num modelo diferente da conferência habitual», estando prevista «uma conversa informal entre duas pessoas, onde o percurso pessoal e profissional de Vassalo Rosa irá ser abordado de forma descontraída e intimista», tendo como centro o projeto catedralício.
O interlocutor de Vassalo Rosa será o arquiteto Pedro Cascalheira, «verdadeiramente conhecedor do projeto», dado que se encontra «em fase de conclusão de tese de doutoramento precisamente sobre a Catedral de Bragança», explica Fátima Pimparel.
Pedro Cascalheira pretende também realizar um documentário sobre o tema, pelo que a conversa, marcada para as 21h15 na sé, será registada integralmente pela Agência Ecclesia, para que «o testemunho, que todos quantos quiserem podem assistir, se perpetue».
A história da catedral
D. Abílio Vaz das Neves foi o bispo que pôs mãos à obra, mas antes dele, já três antecessores haviam sonhado com uma catedral em Bragança. Em 1960, na Nota Pastoral da Quaresma, dizia D. Abílio: «Desde 1764 que Bragança tem prelado sem catedral… É a hora de Deus, a hora de uma sé nova».
Encorajado pelo então ministro das obras públicas, Eduardo Abrantes e Oliveira, sob o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, D. Abílio dá inicio à tramitação que conduzirá à apresentação do ante-projecto, em 1963, por uma equipa constituída pelos arquitectos Vassalo Rosa e Francisco Figueira, pelo escultor António Alfredo, pelo engenheiro Eduardo Zúquete e pelo então padre Albino Cleto, que viria a ser bispo auxiliar de Lisboa e, depois, bispo de Coimbra.
O anteprojeto apresentado a concurso era de tal modo arrojado para a época, que o júri lhe atribui o primeiro prémio, por unanimidade. Dizia Fernando Pernes, crítico de arte sobre a futura catedral: «Bela, dura e simples, evocante da melhor prosa do Torga».
Não obstante os elogios transversais começava uma saga. Um “caso” que só viria a ter fim décadas depois. O Ministério das obras Públicas chumba o projeto. D. Abílio Vaz das Neves resigna pouco depois. D. Manuel de Jesus Pereira herda uma situação delicada.
Em abril de 1987 inicia-se um novo estudo, designado “projeto base”, já pela mão de D. António Rafael, e a obra ganha um novo impulso. Novo no verdadeiro sentido da palavra. Não sem celeumas e controvérsias eis que, a 7 de outubro de 2001, Bragança tem prelado e catedral.
De 1963 a 2001 muito sucedeu, e Vassalo Rosa acompanhou e viveu na primeira pessoa. Licenciado em arquitetura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1957, Vassalo Rosa especializou-se em planeamento urbanístico pela Universidade de Sussex, no Reino Unido, em 1973. O seu percurso profissional passa por Torres Vedras, sua terra natal, mas atravessa Pangim (Goa, da antiga Índia portuguesa), mas também pelo Brasil, em Recife e Olinda.
Por ocasião da comemoração dos 75 anos dedicados à arquitetura, dizia Vassalo Rosa: «Sei que a vida é sempre o futuro, e assim olho para o que fiz. (…) Procurei sempre valorizar os outros, separar o essencial do acessório (…), não me acomodei ao receituário de correntes estéticas, de materiais e tecnologias, de marketing e auto-promoção. Procurei o meu próprio caminho».
Cartaz | D.R.