

"Culturas femininas: igualdade e diferença" é o tema da assembleia plenária do Pontifício Conselho da Cultura, que decorrerá em fevereiro de 2015, anunciou o organismo integrado na cúria romana.
A discussão do tema escolhido pelo presidente do Conselho, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, está reservada aos membros e consultores do Conselho, entre os quais se encontram os portugueses D. Carlos Azevedo, delegado do dicastério, e padre José Tolentino Mendonça, consultor do mesmo organismo.
O programa do encontro, que contará com um evento público de abertura, ainda não é público, embora tenham sido reveladas algumas questões que poderão estar no centro dos debates.
O «exercício de consulta» promovido pelo Conselho identificou áreas como «ideologia de género», «direitos das mulheres invisíveis», «espiritualidade da mulher», «a igualdade e a reciprocidade», «autoridade e serviço», «intuição, visão e biologia».
A propósito do tema da assembleia, apresentamos a maior parte de um texto que o cardeal Gianfranco Ravasi, especialista em Bíblia, assinou em 2011 no jornal italiano "Avvenire".
Olhos de mulher
Card. Gianfranco Ravasi
In "Avvenire"
Há certas coisas em que o olho feminino vê sempre mais agudamente do que cem olhos masculinos. Um provérbio oriental declara que «os homens enamoram-se com os olhos, as mulheres com os ouvidos», e nisto revelam certamente mais inteligência.
Com efeito, os olhos detêm-se na pele, na superfície da pessoa, na sua aparência mais ou menos atraente, enquanto que os ouvidos colhem os discursos, os raciocínios, os pensamentos e, portanto, a qualidade da mente e da alma.
Não sei se as coisas - pelo menos hoje - são efetivamente assim, sobretudo quando, passando por acaso diante de qualquer local de espetáculo ou loja de moda, se veem multidões de raparigas a berrar e estridentes porque sobre o tapete vermelho apareceu o último divo televisivo ou um cantor famoso.
A propósito dos olhos femininos, hoje translitero uma linha do drama "O libertino", de Gotthold Ephraim Lessing, autor alemão do séc. XVIII célebre sobretudo pelo seu "Nathan, o sábio", sobre as três religiões monoteístas.
A sua é um pouco a exaltação do que João Paulo II denominou «o génio feminino», que é sobretudo uma capacidade intuitiva mais intensa. Os olhos em questão seriam, assim, os da alma, que sabem perfurar a realidade e penetrar em profundidade, escavando também o recôndito, o mistério último das coisas e das pessoas.
É este um dom precioso que também nós, homens, deveremos esforçar-nos por adquirir através de uma maior introspeção e sensibilidade, enriquecendo de algumas dioptrias a nossa vista interior.
Trad. / edição: Rui Jorge Martins