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Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias

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Pregação «não é um sermão sobre um tema abstrato»: Vaticano apresenta diretório sobre homilias

A homilia «não é um sermão sobre um tema abstrato» nem «uma ocasião, para o pregador, de tratar argumentos completamente desligados da celebração litúrgica e das suas leituras, ou para fazer violência aos textos previstos pela Igreja, contorcendo-os para os adaptar a uma ideia pré-concebida», não é «um puro exercício de exegese bíblica», «não deve ser empregada como tempo de testemunho pessoal do pregador», não deve reduzir-se a um carácter «puramente moralista ou doutrinante».

O Vaticano apresentou hoje um “diretório homilético”, elaborado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, orientada, desde novembro, pelo cardeal Robert Sarah, da Guiné (Conacri), texto acelerado com o papa Francisco, publicado em dezembro e em preparação desde o pontificado de Bento XVI, quando à cabeça do dicastério estava o cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera.

Em 156 parágrafos e dois apêndices este prontuário dirigido a bispos, padres e seminaristas de todo o mundo indica como realizar uma boa pregação e os erros a evitar.

Na conferência de imprensa de apresentação da obra, no Vaticano, o cardeal Sarah explicou que o diretório «não nasce sem um porquê», tendo citado o que o papa Francisco escreveu na exortação apostólica “O Evangelho da alegria”, n.º 135:

«Muitas as reclamações relacionadas com este ministério importante, e não podemos fechar os ouvidos. A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo. De facto, sabemos que os fiéis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar. É triste que assim seja.»

O volume está articulado em duas partes. Na primeira, intitulada “A homilia e o âmbito litúrgico”, descreve-se «a natureza, a função e o contexto particular da homilia»; na segunda secção, “Ars praedicandi”, são assinaladas as coordenadas metodológicas e de conteúdo que o pregador deve conhecer e ter em conta ao preparar e pronunciar a homilia. Os dois apêndices são compostos por referências do Catecismo da Igreja Católica e textos de documentos da Igreja sobre a homilia.

Não se trata de «uma recolha de homilias já prontas nem de um subsídio, como existem muitos, com explicações exegéticas, espirituais e pastorais em torno das leituras [bíblicas] da missa», esclareceu o padre Corrado Maggioni, sub-secretário da congregação, nem o diretório pretende «introduzir normas novas», mas reúne as já existentes.

Entre as várias anotações está a atenção particular a prestar às celebrações onde participam também não católicos ou pessoas que não vão à missa todos os domingos, como é o caso de matrimónios e funerais.

É referido que a homilia pode ser proferida «apenas por bispos, sacerdotes e diáconos», ao passo que um leigo, afirmou o padre Maggioni, pode «oferecer um testemunho» temático se no calendário litúrgico ocorre um dia específico, ou pode intervir com uma «pregação» na igreja mas fora da «ação litúrgica», que está reservada «ao ministério ordenado» (os três graus do sacramento da Ordem, diaconado, presbiterado e episcopado).

No que diz respeito à duração da homilia, relembra-se o que o papa Francisco escreveu na sua exortação - «deve ser breve e evitar parecer uma conferência ou uma lição» -, mas também o que já sublinhava a Igreja - «nem demasiado longa nem demasiado breve».

A interpretação destes adjetivos «depende da cultura» em que se aplicam: «É claro que no Ocidente ultrapassar 20 minutos parece demasiado, mas em África 20 minutos não chegam, porque as pessoas vêm de longe para escutar a Palavra de Deus, se um padre fala dez ou 20 minutos não chega». Mas nos dias feriais (fora dos domingos ou das solenidades “de preceito”), a homilia deve ser «breve».

O diretório não se dirige a países específicos porque «há dificuldades na homilia em todo o lado», é um «problema mundial», afirmou o cardeal Sarah. Por seu lado, o bispo Arthur Roche, secretário da congregação, recordou outra passagem da exortação “A alegria do Evangelho”:

«A homilia não pode ser um espectáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um género peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica.»

O «bom» pregador, declarou o prelado, é aquele que consegue fazer «saborear o que sai da boca de Deus, abrir os corações à ação de graças a Deus», «preparar para uma frutuosa comunhão sacramental com Cristo, exortando a viver o que se recebeu no sacramento», enquanto que o «mau» pregador é aquele que «apesar de ser um grande orador» é incapaz de suscitar aqueles efeitos.

Para o vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Ciro Benedettini, as homilias são «cruz e deleite» de cada padre e de cada fiel, «muitas vezes mais cruz que deleite: o importante é que não façam adormecer os fiéis».

«[A homilia] deve ser o meio através do qual o sacerdote instila em mim o desejo de conhecer ou re-conhecer Jesus, apresentando-o na maneira mais direta e clara, não enrolado ou parcial», disse Filippo Riva, do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais, dando voz a quem ouve as homilias.

 

Iacopo Scaramuzzi
In "Vatican Insider"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 10.02.2015 | Atualizado em 18.04.2023

 

 
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O «bom» pregador é aquele que consegue fazer «saborear o que sai da boca de Deus, abrir os corações à ação de graças a Deus», «preparar para uma frutuosa comunhão sacramental com Cristo, exortando a viver o que se recebeu no sacramento»
As homilias são «cruz e deleite» de cada padre e de cada fiel, «muitas vezes mais cruz que deleite: o importante é que não façam adormecer os fiéis»
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