O presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, «tem sido providencial» para aprofundar a relação entre a Igreja e o mundo das expressões culturais, considera Walter Osswald, médico e especialista em Bioética que a Igreja católica distinguiu com a edição de 2016 do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes.
Em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), o professor catedrático sustenta que se «têm feito muitos progressos nas últimas décadas», ainda que a não seja um trajeto fácil, dado que «na Cultura há representações de todas as orientações, e muitas delas são de agnosticismo e ateísmo militante».
«A Igreja católica terá tido, muitas vezes, desconfianças em relação a essas posições. Não é fácil sentarmo-nos à mesa de alguém que nos diz "tu não tens razão de existir", "tu não tens capacidade de intervir", "nego-me totalmente a falar contigo". Isto aconteceu em alguns setores da Cultura», afirmou.
O extremar de posições conduziu, «algumas vezes, a uma atitude de rejeição e de enfrentamento», atitude que para Walter Osswald «tem sido progressivamente desmontada pelos pontífices, pela Igreja, pelos responsáveis da Cúria, e particularmente agora, com as atividades do cardeal Ravasi», que têm inspirado uma tendência de aproximação que está a ser seguida, «em geral», por todas as conferências episcopais.
«A Igreja católica não pode estar de costas voltadas para a Cultura nem pode alhear-se desse fenómeno, dado que ele faz parte das componentes mais nobres da vida humana. A Igreja católica tem de estar presente, e não o pode fazer só para dizer "isto agrada-me, aquilo desagrada-me". Tem de manter o diálogo, tem de manter o fórum das ideias e dos embates, porque a Igreja tem muito para propor e não tem nada que impor», vincou.
Para Walter Osswald, «a situação atual é incomparavelmente melhor» do que há algumas décadas: «Temos assistido, da parte de eminentes figuras da cultura que não têm inserção confessional, ou que se revelam como agnósticas, ou até ateias, a diálogos com papas e cardeais».
Estes diálogos «com intelectuais que têm opinião diversa» também tiveram lugar e continuam, «quer com o atual presidente da Conferência Episcopal, D. Manuel Clemente, quer com o seu antecessor, D. José Policarpo. E poderíamos ir mais atrás, com D. António Ribeiro».
«Isto são factos. Eles poderão, muitas vezes, ter caminhos com pedras a vencer, com tropeços, mas são caminhos de futuro», concluiu Walter Osswald.
Rui Jorge Martins