«Uma família que quase nunca come em conjunto, ou em que à mesa não se fala mas vê-se televisão ou o “smartphone”, é uma família pouco família», afirmou hoje o papa na audiência geral que decorreu na Praça de S. Pedro, no Vaticano.
Na intervenção, Francisco qualificou de «vergonha» o facto de muitas famílias passarem fome, enquanto que nas sociedades ocidentais a publicidade estimula o consumo excessivo de alimentos e, ao mesmo tempo, apresenta métodos para remediar os exageros.
Num tempo «marcado por tantos fechamentos e demasiados muros, a convivialidade, gerada pela família e dilatada pela Eucaristia, torna-se uma oportunidade crucial», acentuou.
A reflexão do papa centrou-se na «convivialidade, ou seja, a atitude de partilhar os bens da vida e ser feliz por o poder fazer», dimensão «da vida familiar que se aprende desde os primeiros anos de vida».
«Saber partilhar é uma virtude preciosa. O seu símbolo, o seu ícone, é a família reunida em torno da mesa doméstica. A partilha da refeição, e, portanto, além do alimento, também dos afetos, das histórias, dos acontecimentos, é uma experiência fundamental», assinalou.
Por isso, continuou Francisco, «a convivialidade é um termómetro seguro para medir a saúde das relações: se em família há alguma coisa que está mal ou alguma ferida oculta, à mesa percebe-se tudo».
Foi também à mesa que Jesus ensinava, e foi também numa refeição que entregou aos discípulos o seu «testamento espiritual», condensado no «gesto memorial» do seu sacrifício, apontou.
«A Eucaristia e as famílias por ela alimentada podem vencer o fechamento e construir pontes de acolhimento e caridade», porque a Eucaristia de uma Igreja doméstica «é uma escola de inclusão humana».
Com efeito, «não há pequenos, órfãos, frágeis, indefesos, feridos e desapontados, desesperados e abandonados que a convivialidade eucarística das famílias não possa alimentar, refrescar, proteger e acolher».
«Hoje, muitos contextos sociais põem obstáculos à convivialidade familiar. É verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar a maneira de a recuperar; à mesa fala-se, à mesa ouve-se, nada de silêncio que não seja silêncio dos monges, mas o do egoísmo, do telemóvel, do televisor», propôs Francisco.
Depois de frisar que «o alimento nem sempre é o símbolo de uma justa divisão de bens», o papa salientou as desigualdades que persistem entre quem come em demasia e quem nada tem para se alimentar.
«Nos países ricos somos induzidos a pagar por uma alimentação excessiva, e depois somo-lo de novo para remediar o excesso. E este negócio insensato afasta a nossa atenção da verdadeira fome, do corpo e da alma. Quando não há convivialidade há egoísmo, cada um pensa em si mesmo. Tanto mais que a publicidade a reduziu a uma linguagem de bolos e a um desejo de doces. Enquanto isso, muitos, demasiados irmãos e irmãs ficam fora da mesa. É uma vergonha», declarou.
Francisco realçou que «a família cristã» é chamada a viver a «amplitude do seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja Mãe de todos os homens, de todos os abandonados e excluídos, em todos os povos».
Iacopo Scaramuzzi / Vatican Insider