O papa Francisco lançou hoje, no Vaticano, um desafio à leitura e meditação individual do Evangelho, reservando esse tempo a partir daquele que se gasta a ver televisão.
Com a oração recorda-se a «memória de todo o caminho que passou», a par das «muitas graças recebidas» de Deus, ao mesmo tempo que se consolida «a esperança», afirmou Francisco na missa a que presidiu, segundo a Rádio Vaticano.
«Para conhecer o Senhor, tomemos o Evangelho e façamos essa oração de contemplação. Hoje, por exemplo, procurai 10 a 15 minutos, não mais, lede o Evangelho, imaginai e dizei algo a Jesus. E nada mais. E assim o vosso conhecimento de Jesus será maior e a vossa esperança crescerá», apontou.
Francisco considerou as possíveis objeções a este eventual novo hábito: «“Mas eu tenho tanto que fazer”»; «Toma o Evangelho» - propôs o papa - «um pequeno excerto, imagina o que sucedeu, e fala com Jesus sobre isso. Assim o teu olhar estará fixo em Jesus, e não tanto na telenovela, por exemplo. O teu ouvido estará fixo nas palavras de Jesus, e não tanto nos mexericos do vizinho, da vizinha».
No Evangelho proclamado nas missas desta terça-feira (Marcos 5, 21-43), Jesus cura uma mulher que, aproximando-se dele, sem que Ele o soubesse, é sarada de um fluxo de sangue contínuo, e salva da morte a filha de um chefe de sinagoga.
«Como faço a contemplação como Evangelho de hoje? Vejo que Jesus estava no meio da multidão, em torno dele havia uma multidão. Cinco vezes diz este excerto a palavra “multidão”. Mas Jesus não descansava? Eu posso pensar: “Sempre com a multidão…”. A maior parte da vida de Jesus é passada na estrada, com a multidão».
As pistas para a meditação continuaram, suscitando novas imagens: «Mas não descansava? Sim, uma vez, diz o Evangelho, dormia no barco mas veio a tempestade e os discípulos despertaram-no», afirmou Francisco, que prosseguiu: «Digo a Jesus aquilo que me vem à ideia dizer-lhe».
Exemplificando o que poderá ser meditado com a cura da criança, o papa observou a «paciência de Jesus» quando muitos dos que estavam à sua volta se riram dele, e destacou a sua atenção «aos pequenos detalhes», como quando pede aos adultos para darem de comer à menina ressuscitada.
«O que eu fiz com este Evangelho é precisamente a oração de contemplação: tomar o Evangelho, ler e imaginar-me na cena, imaginar o que acontece, e falar com Jesus, como me vem ao coração», explicou.
Sem a proximidade com Deus é possível «ter otimismo, ser positivo», mas a esperança «aprende-se olhando para Jesus», sublinhou Francisco.
Para o papa, «é bom rezar o Rosário todos os dias», falar com Jesus, com a Virgem ou com os santos quando existe uma «dificuldade», mas é também importante fazer a «oração de contemplação», que só se pode realizar «com o Evangelho na mão».
Rui Jorge Martins