«Os navegadores portugueses aportaram a Lifau, há 500 anos, em demanda do sândalo, madeira aromática comum no Sudeste Asiático, que além da sua aptidão para a arte escultórica produz preciosos óleos voláteis para a perfumaria. Desde então assistimos a uma história de encontros – entrecortados por alguns desencontros – de povos que, embora situados nos antípodas geográficos, viram os seus destinos unidos ao longo de cinco centúrias.»
Assim começa a história da relação entre Portugal e Timor-Leste, evocada na mais recente edição da revista “Povos e Culturas”, publicada pelo Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, pertencente à Universidade Católica Portuguesa.
A nota de apresentação do volume, coordenado por Roberto Carneiro e José Revez, recorda que «a República Democrática de Timor-Leste (RDTL), Timor Lorosa'e, oficialmente Repúblika Demokrátika Timór-Leste, tornou-se o primeiro novo Estado soberano do século XXI, oficialmente declarado em 20 de maio de 2002».
Depois de acompanhar «com emoção a saga do povo timorense que, entre finais de 1975 e 1999, sofreu uma traumatizante ocupação pelo seu poderoso vizinho, a Indonésia, que perdurou por 24 anos de intenso martírio dos timorenses», Portugal «tem procurado marcar presença no esforço titânico de recuperação da independência de uma nação timorense, esmagada entre dois colossos-vizinhos, e de apoio às suas estratégias de desenvolvimento».
As mais de 600 páginas desta edição constituem uma «homenagem ao povo timorense que ao longo dos séculos soube, pelo seu esforço e abnegação, superar as dificuldades, construir a sua identidade e até erguer bem alto o nome de Portugal», ao mesmo tempo que evoca alguns dos portugueses «que de Timor fizeram a sua terra, que a abraçaram em momentos da sua vida ou que a tem presente no seu quotidiano».
A primeira secção da revista, “Histórias de encontros de dois povos”, abre com um texto de Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, intitulado “A saga de Timor-Leste: breve revisitação de um percurso atribulado”, seguindo-se artigos de personalidades que ocuparam cargos no Governo de Portugal: Rui Machete (“Portugal, um parceiro efetivo de Timor-Leste”), Luís Amado (“Vizinhos, aliados e amigos”) e Adriano Moreira (“Memória de Timor”).
O antigo administrador apostólico de Díli e Prémio Nobel da Paz, D. Carlos Ximenes Belo, inicia o segundo capítulo do volume, com o texto “Lendas e narrativas da História da Igreja em Timor-Leste”, que antecede o artigo “Timor: cinco séculos de presença cristã”, assinado por Luís Filipe Reis Thomaz.
"O catolicismo e o animismo – Hibridismos no Extremo Oriente”, "Línguas e culturas na textura da nação timorense”, “O berço da democracia e da formação de uma nação” e “O desafio inadiável das pessoas: educação e formação dos timorenses” são alguns dos temas dos sete capítulos da revista, que apresenta quase três dezenas de artigos assinados por personalidades como Adelino Gomes, Rui Marques e Vítor Melícias.
Rui Jorge Martins