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Santa Sé estreia-se no festival de cinema de Veneza

Imagem Cartaz do 72.º Festival de Cinema de Veneza (det.) | D.R.

Santa Sé estreia-se no festival de cinema de Veneza

A Santa Sé vai estar presente pela primeira vez na Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza, que na sua 72.ª edição decorre entre hoje e 12 de setembro, com um documentário produzido pelo Centro Televisivo do Vaticano (CTV).

O filme, intitulado "O exército mais pequeno do mundo", do realizador italiano Gianfranco Pannone, exibido fora de concurso a 9 de setembro, centra-se na Guarda Suíça, corpo militar que presta serviço ao papa e à Igreja.

O documentário resultou da vontade do atual responsável pela Secretaria para a Comunicação do Vaticano e diretor do CTV, o padre Dario Viganò, adianta o diário italiano "Avvenire".

O cineasta de 52 anos conta que foi contactado pelo sacerdote para um projeto «sobre a Igreja católica e como ela se relaciona com a contemporaneidade», tendo-lhe chegado a ideia de um filme sobre a Guarda Suíça.

«Tinha receio, podia ser o enésimo filme clássico, ou seja, a história deste corpo militar especial. Tornou-se, todavia, uma espécie de bastidores de uma instituição mais que centenária, que muitos não conhecem de todo, ou da qual se tem uma ideia estereotipada, que se confunde nas cores refulgentes do uniforme», explicou Pannone.

Os temores iniciais foram motivados pela eventual relutância da parte da Guarda Suíça, já que seria a primeira vez que uma equipa de cinema entraria nas casernas do Vaticano, mas a apreensão dissipou-se.

«Encontrei uma grande abertura nos superiores e nos guardas. Fiquei surpreendido, talvez também eu tivesse um preconceito. Mas percebi rapidamente como aquela atitude positiva é fortemente influenciada pela presença do papa Francisco, uma figura importantíssima que, de alguma maneira, aparece sempre no plano de fundo do filme», assinalou.

Todos os recrutas foram selecionados a partir da sua atitude diante da câmara, na sequência de audições supervisionadas pelos superiores hierárquicos, pelo realizador e pelos técnicos.

«A aproximação que tivemos caracterizou-se pela mesma sensibilidade e atenção que colocamos quando registamos o papa. Uma atitude presente mas reservada e de absoluto respeito pelos lugares, porque andamos sempre entre contextos muito particulares. A confiança esteve na base do nosso trabalho. Penso, por isso, que é importantíssimo que se continue a ter um intercâmbio com o exterior e contactos com o mundo do cinema, porque este encontro enriquece a atividade normal da televisão do Vaticano», apontou o realizador.

O trabalho começou há um ano, na Suíça, «seguindo os jovens desde as suas terras de origem até à caserna do Vaticano», pelo que o documentário, mais do que narrar a história do corpo militar, incide na vida quotidiana dos recrutas.

Leo, René, Michele e Marco são seguidos pela câmara de Cesare Cuppone, ao serviço do Vaticano desde 1988, desde a recruta até ao dia em que juram fidelidade ao papa e à Igreja, tornando-se, efetivamente, guardas suíços.

«Insisti muito sobre um aspeto que, a meu ver, está também fortemente ligado a este papado: a humanidade, isto é, não narrar os soldados, mas pessoas de fé que procuram, de alguma forma, situarem-se no mundo», realçou Gianfranco Pannone.

O resultado desta perspetiva é um documentário que mostra as conversas, as confidências, as dúvidas: «Não é um filme celebrativo, mas um olhar à altura do homem, com a vida da camarata, o refeitório, os passeios por Roma».

«Mas é também o entusiasmo de poder correr dentro dos jardins do Vaticano, mais que tagarelar sobre as emoções de fazer a guarda ao papa durante a noite, na Casa de Santa Marta, a cinco metros do seu quarto. Abriu-se-me um mundo. Como crente, que defende fortemente a dimensão leiga, foi para mim uma grande descoberta e uma experiência extraordinária», afirmou o cineasta.

Por diversas vezes o papa Francisco apertou as mãos a guardas suíços que se colocavam em sentido à sua passagem, gesto que manifesta uma atitude diferente da dos seus predecessores para um Corpo que celebra a sua festa a 6 de maio, quando também se realiza o juramento de fidelidade dos novos soldados.

A data recorda um episódio que se tornou símbolo de fidelidade: nesse dia de 1527, de 189 guardas suíços, 147 morreram quando Roma era saqueada.

No início deste ano, o papa Francisco decidiu fazer-se acompanhar por alguns dos 110 militares helvéticos dirigidos por Christoph Graf, além dos serviços de polícia, em todas as saídas do Vaticano.

Enquanto voluntários, os guardas suíços são também o braço operante da Esmolaria Apostólica, que socorre os pobres de Roma.

O atual uniforme de gala deve a existência ao comandante Jules Repond (1910-1921), que o desenhou após investigação aprofundada, incluindo a inspiração de frescos de Rafael. As cores azul e amarelo pertencem ao estema da família Rovere, de onde provém o papa Júlio II, fundador da Guarda Suíça, a 22 de janeiro de 1506.

O vermelho inspira-se na família Medici, da qual era originário o papa Clemente VII, pontífice que os 42 guardas suíços sobreviventes aos confrontos de maio de 1527 acompanharam, em segurança, através de um túnel secreto, para fora do Vaticano.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 16.04.2023

 

 

 
Imagem Cartaz do 72.º Festival de Cinema de Veneza | D.R.
«Tinha receio, podia ser o enésimo filme clássico, ou seja, a história deste corpo militar especial. Tornou-se, todavia, uma espécie de bastidores de uma instituição mais que centenária, que muitos não conhecem de todo, ou da qual se tem uma ideia estereotipada, que se confunde nas cores refulgentes do uniforme»
«Insisti muito sobre um aspeto que, a meu ver, está também fortemente ligado a este papado: a humanidade, isto é, não narrar os soldados, mas pessoas de fé que procuram, de alguma forma, situarem-se no mundo»
O atual uniforme de gala da Guarda Suíça deve a existência ao comandante Jules Repond (1910-1921), que o desenhou após investigação aprofundada, incluindo a inspiração de frescos de Rafael. As cores azul e amarelo pertencem ao estema da família Rovere, de onde provém o papa Júlio II, fundador da Guarda Suíça
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