El Greco
«Se Cristo voltasse hoje, as pessoas já não o punham na cruz. Convidá-lo-iam para jantar, escutá-lo-iam e rir-se-iam dele atrás das costas.»
Não são poucos os filmes que imaginaram um regresso de Cristo nas estradas de hoje, no interior dos palácios das nossas metrópoles e até nas igrejas a Ele consagradas. Um título por todos: "Jesus of Montreal", do realizador Denys Arcand (1989).
Jaroslav Pelikan escrevia, em 1985: «Para além do que cada um possa pessoalmente pensar ou acreditar dele, Jesus de Nazaré foi durante quase 20 séculos a figura dominante na história da cultura ocidental».
Mas se tivéssemos de imaginar um seu regresso entre nós, poderíamos talvez correr o risco de dar razão ao historiador escocês Thomas Carlyle, a quem devemos a frase acima proposta.
E no entanto ele fazia aquela afirmação no séc. XIX. Hoje seria ainda pior. Poderíamos imaginar Jesus, com as suas feições algo "orientais", a ser parado numa operação de controle de documentos.
O elemento que gostaria de sublinhar é, contudo, o do escárnio benevolente. Não, não é um exagero teatral ou narrativo. Muitos cristãos - esqueçamos a sociedade secularizada - não levam a sério o cristianismo com as suas verdades e opções que exige.
Um mínimo de orações e de algumas boas obras não é uma resposta ao Discurso da Montanha e aos seus apelos [Mateus 5], assim como um vago conhecimento dos Evangelhos não cobre a exigência que Cristo apresenta de adesão às suas revelações de verdade, de amor, de liberdade.
As suas palavras, se reduzidas ao diálogo de sociedade, extinguem-se, porque elas, na realidade, têm o fogo dentro de si e querem acender-se nas mentes e nas almas. Não se pode apenas deixá-lo falar e depois troçar dele porque é «exagerado». Todavia é este o risco que estamos a correr no cinzentismo dos nossos dias.