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Trump mostra «falta de respeito» e «autismo», afirma presidente do Conselho Pontifício da Cultura

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Imagem eric1513/Bigstock.com

O presidente dos EUA, Donald Trump, mostra «falta de respeito a uma das principais características do ser humano, a relação», ao retirar os EUA do Acordo de Paris sobre a mudança de clima, considera o presidente do Conselho Pontifício da Cultura.

«É como se essa decisão fosse fruto de uma forma de autismo. Aliás, muito pior, porque essa decisão denota um isolamento total, o querer falar apenas para si mesmo, o ver apenas os próprios interesses», frisa o cardeal Gianfranco Ravasi em entrevista publicada este domingo no jornal italiano "Il Messaggero".

O prelado, especialista em ciência bíblica, defende que a opção de Trump se insere numa «tendência que faz perder de vista a própria definição da pessoa humana que é, por excelência, e em todas as grandes culturas, a relação».

«A Bíblia diz que o homem olha para o alto - o céu -, para baixo - Terra - e para diante de si - para os seres humanos. Olhar para a frente de si é o nexo das relações fundantes, de outro modo rompe-se a harmonia da criação», assinala.



«A defesa do próprio quintal» é uma estratégia criticável: «De cada vez em que nos concentramos num pequeno elemento e nos esquecemos do quadro geral, criamos problemas para o sistema. A escolha de Trump denota que não foi levado em consideração o todo, a interconexão, o geral, o mundo



Questionado sobre o que diria ao presidente norte-americano se se encontrasse com ele, afirma que não saberia, «visto que nem o papa Francisco teve um bom resultado».

«Talvez pudesse ser útil fazer com que ele entendesse, do ponto de vista científico, o significado da interconexão ambiental, que certamente não é uma aspiração de um grupo de "ecomaníacos", mas um fenómeno muito, muito concreto. Até a China o compreendeu», apontou.

Ravasi sustenta que «as mudanças climáticas são uma realidade no horizonte» global, pelo que «a qualidade do ar é um problema para as crianças de Pittsburgh, assim como para as chinesas, ou africanas, ou europeias, ou indianas». E acrescenta: «Estamos interligados. E, se continuarmos assim, será um problema também para elas».

O cardeal italiano recorda uma região do Bangladesh que há 20 anos era verde, cultivada, e «capaz de alimentar milhões de pessoas», tendo-se tornado azul por causa do aquecimento e da elevação das águas.



«Há um provérbio árabe que diz que nada é mais óbvio do que o ar, mas ai de quem não o respirar. Pois bem, se nos esquecemos de que há tantas coisas óbvias que são fundamentais, em certo sentido destruímos a figura humana»



«A população retirou-se para o interior e o fluxo migratório causou tensões. Há milhares de exemplos assim. As visões solipsistas, de mónadas, não são úteis e, no futuro, serão cada vez menos», acentua.

Gianfranco Ravasi revela--se surpreendido pelo facto de «uma grande potência que tem uma grande tradição humanista» se ter retirado do protocolo assinado em 2015 por se tratar de «uma opção que vai contra a respiração do mundo dos EUA».

«Além de uma visão cristã e bíblica, que concebeu toda a natureza como uma criação em que o homem foi posto para cultivar e cuidar da Terra, há um aspeto ético que é dilacerado», assinala.

Para Ravasi, «a defesa do próprio quintal» é uma estratégia criticável: «De cada vez em que nos concentramos num pequeno elemento e nos esquecemos do quadro geral, criamos problemas para o sistema. A escolha de Trump denota que não foi levado em consideração o todo, a interconexão, o geral, o mundo».



A encíclica "Laudato si'", «oferecida pelo papa Francisco ao presidente Trump» durante o encontro no Vaticano, a 24 de maio, «sublinha que a fraqueza da política internacional reside no facto de que muitos interesses particulares têm precedência sobre o bem comum». «É lamentável que esta análise seja novamente confirmada»



«Há um provérbio árabe que diz que nada é mais óbvio do que o ar, mas ai de quem não o respirar. Pois bem, se nos esquecemos de que há tantas coisas óbvias que são fundamentais, em certo sentido destruímos a figura humana», declara.

No início deste mês, o presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia tinha expressado preocupação pela opção de Donald Trump.

«Apesar de esta decisão não ser uma surpresa, é um grande desafio para a proteção do clima a nível internacional. Desgasta a confiança global alcançada com o Acordo de Paris», afirmou o cardeal Reinhard Marx, que acrescentou: «Até ao fim esperámos que os debates no G7 e o encontro com o papa Francisco influenciassem positivamente a sua decisão».

O responsável recordou que a encíclica "Laudato si'", «oferecida pelo papa Francisco ao presidente Trump» durante o encontro no Vaticano, a 24 de maio, «sublinha que a fraqueza da política internacional reside no facto de que muitos interesses particulares têm precedência sobre o bem comum».

«É lamentável que esta análise seja novamente confirmada e que a responsabilidade global pare nas fronteiras de um país. A comunidade internacional não deve ser desencorajada. Os europeus, em particular, têm o encargo de permanecerem unidos e desempenharem um papel de liderança na salvaguarda da criação», observou o cardeal alemão.



 

SNPC
Fontes: "Il Messaggero"; COMECE
Publicado em 06.06.2017

 

 
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