«Vi um ninho em ruína em cima de uma grande árvore e esta vista era doce como a de um coração que cumpriu o seu trabalho.»
Quando se passeia pelos bosques pode acontecer entrever entre os ramos um ninho abandonado: toca-nos sempre o refinamento e o cuidado com que foi confecionado através de um paciente trabalho conduzido a golpes de bico, quase como se fosse um cinzel.
A Bíblia interessa-se em vários passos pelos ninhos e pelas ninhadas, usando-os não raro como símbolo de intimidade: «Até os pássaros encontram abrigo e as andorinhas um ninho, para os seus filhos, junto dos teus altares, Senhor do universo» (Salmo 84,4).
Muitas vezes, porém, o que encontramos são ninhos que já realizaram a sua função de sede para a criação. É a esta luz que os contempla, no passo citado, Christian Bobin, escritor francês nascido em 1951, na obra "Ressuscitar".
É verdade que este autor se abandona por vezes ao sentimentalismo e à retórica, mas em todo o caso tem o mérito de reenviar o homem contemporâneo para o valor dos sentimentos, da ternura, da delicadeza. O ninho torna-se, assim, o emblema de um amor simples que cumpriu a sua missão.
Há quem por vezes deseje elevar-se sobre o quotidiano com atos clamorosos: a sociedade atual toda dedicada a exaltar o aparecer, o exceder, o gritar, impele-nos a darmo-nos conta só daquilo que faz clamor ou é "excecional".
E todavia, a grandeza está precisamente na simplicidade, na fidelidade, na doçura das pequenas coisas. É aí que se encontra a verdadeira paz da alma e a serenidade da consciência.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi