A Paulus Editora lançou recentemente o livro "Uma casa rica de misericórdia - O Evangelho de Lucas em família", assinado pelo arcebispo italiano Vincenzo Paglia, que desde 2013 preside ao Pontifício Conselho para a Família.
«Creio que também no início deste terceiro milénio devemos voltar a fazer o mesmo que nas origens do cristianismo: tomar o Evangelho nas nossas mãos, também nas nossas famílias, e reconstruir uma nova fraternidade entre as pessoas, uma nova solidariedade entre as famílias, para poder anunciar a “boa nova” do amor de Deus a todos», sublinha o autor na introdução.
Para o prelado, a Bíblia não está a ser devidamente assumida nas comunidades eclesiais, o que tem consequências na espiritualidade e na cultura: «É indispensável tomar na mão o Evangelho e escutá-lo com renovada atenção para termos um mundo mais fraterno, mais solidário, mais humano. A insegurança e o medo que marcam a vida deste nosso mundo, as incríveis injustiças que laceram a vida de tantos povos, a violência que se parece espalhar sem travão até mesmo dentro das nossas casas, os conflitos e as guerras que ainda continuam a ceifar vidas inocentes, só podem ser ultrapassados graças ao Evangelho».
«Infelizmente, nós cristãos corremos o risco de estar entre aqueles que não creem na força do Evangelho que transforma e se resignam à tristeza dos tempos. É urgente voltar a ouvir com paixão a “alegre notícia”, a começar pelas famílias. Há uma graça especial quando se lê o Evangelho em família, porque acontece aquilo que diz Jesus: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles. E tudo o que pedirem ao Pai em meu nome, ouvi-los-ei"», acrescenta.
Apresentamos três das quase 150 reflexões incluídas na obra, correspondentes a trechos do texto lucano, «por muitos chamado o «Evangelho da Misericórdia», que é indicado pelo papa para acompanhar o Jubileu da Misericórdia, iniciativa proposta por Francisco que decorre entre 8 de dezembro e 20 de novembro de 2016.
Maria e José encontram Jesus, menino de doze anos, no Templo
Lc 2,41-50
É a festa da Páscoa e Jesus realiza a sua primeira peregrinação ao Templo de Jerusalém. É a primeira Páscoa de Jesus e um dos momentos em que Ele diz claramente pertencer ao Pai. Até José e Maria, os que estiveram sempre mais perto d’Ele, não tinham compreendido. Será assim também na sua última Páscoa, quando também os discípulos mais íntimos não compreenderem e O deixarem só. «Porque me procuráveis?», diz aos pais. É uma angústia bela a de Maria e José. Como não andar angustiados sem Jesus? Por vezes nós, embora longe do Senhor, ficamos felizmente tranquilos. Pelo menos é isso que parece. Maria e José ensinam-nos a ter a justa preocupação: não perder o Senhor. «Começaram a procurá-l’O.» E por fim encontraram-n’O no lugar da oração. A Jesus encontramo-l’O sobretudo no Evangelho, na oração, nos irmãos e nos pobres, porque estas são as coisas do Pai. Todas as famílias devem vencer a tentação de pensar só em si mesmas, devem evitar o risco de se fecharem nos seus restritos horizontes e porventura considerarem os filhos propriedade privada. Não, cada um de nós é exortado não a viver para si mesmo, mas a participar no desígnio de amor de Deus, o de fazer da humanidade inteira uma única grande família.
Pensando no futuro
Quem mais do que nós está preocupado com o futuro dos filhos?
Certamente o Senhor!
Se os filhos ainda estão a crescer, rezemos para que compreendam
a sua vocação e lhe correspondam generosamente.
Se já são adultos, peçamos para eles
o dom da fidelidade ao projeto de Deus.
Jesus é o coração da família de Nazaré
Lc 2,51-52
A família de Jesus era uma família normal. Somos chamados a contemplá-la. Comover-nos-emos ao conhecer as orações que os três diziam de manhã e à tarde; seremos edificados ao constatar como Jesus adolescente enfrentava os primeiros apontamentos religiosos e civis, e como já jovem operário trabalhava com José; e depois o seu empenho em ouvir as Escrituras e na oração dos salmos. Quanto não poderiam as mães aprender com os cuidados de Maria para com aquele filho! E quanto os pais poderiam aprender com o exemplo de José, homem justo, que dedicou a sua vida a suster e a defender não a si mesmo mas o Menino e a mãe! Mas há uma profundidade, naquela família, que ficou velada aos olhos dos contemporâneos e que nos é desvendada pelo Evangelho: é a “centralidade” de Jesus. Este é o “tesouro” da “vida escondida”; Maria e José tinham acolhido aquele filho, defendiam-n’O e viam-n’O crescer no meio deles, melhor, dentro dos seus corações, e aumentavam o seu afeto e a sua compreensão.
"Selfie"
É o dia certo para tirar uma bela fotografia a toda a família
e enviá-la a um parente ou amigo
com uma mensagem simples de parabéns.
Façamos compreender a alguém o tesouro que somos,
apesar das fadigas que enfrentamos no dia-a-dia.
João vai para a periferia... para o deserto
Lc 3,1-6
João não é um homem do efémero. É um homem robusto e severo na sua essencialidade. Ele vem ao nosso encontro para que também nós descubramos o sentido verdadeiro da vida, reposto na espera do Senhor, da salvação. Ele pede-nos que nos afastemos com ele da cidade, de uma vida entendida como consumo de bens, de coisas, de afetos, para procurar uma felicidade que está sempre mais além. É preciso dirigirmo-nos para o deserto: precisamos de escutar e de refletir. É a Palavra de Deus que empurra João, e a nós, para sairmos da triste vida de sempre e nos deixarmos guiar pela sua luz. Como refere o evangelista, «havia quinze anos que Tibério era imperador de Roma» quando a Palavra de Deus foi enviada. Isto para dizer que a Palavra, o Evangelho, não é um facto evanescente, uma entidade abstrata e vaga; tão-pouco é uma voz escondida e privada. É uma Palavra que diz respeito a todos, a todo o império. Ela desce aos corações e transforma a vida do mundo.
Post-it
Entre tantas mensagens e ímanes no frigorífico,
coloquemos um lindo post-it colorido no qual escrevemos,
em letra grande, uma frase bela e importante.
Uma palavra significativa colocada bem à vista
na cozinha por alguns dias.
Quem será o primeiro a falar disso à mesa?
Publicado em 10.09.2015