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Cinema

"Dos homens e dos deuses" questiona crentes e não-crentes

Um mosteiro situado no meio das montanhas argelinas, na década de noventa... Oito frades católicos franceses vivem em harmonia com os seus irmãos muçulmanos. Mas, progressivamente, a violência e o terror instalam-se nessa região. Apesar das ameaças que vão aumentando cada vez mais, a decisão dos monges de ficar custe o que custe, concretiza-se dia após dia...

Cinco meses após a obtenção do Grande Prémio do júri do festival de cinema de Cannes, “Des hommes et des dieux” é considerado um dos filmes do ano.

Como observa o padre Christian Salenson, conhecedor de Christian de Chergé, um dos sacerdotes mártires do mosteiro de Tibhirine, “Dos homens e dos deuses”, título adotado em Portugal, «não é um filme religioso, é um filme espiritual que consegue descer até à verdade da experiência humana».

A prova? A partilha de opiniões que suscita entre todas as gerações, inclusivamente nas redes sociais. Ou o recolhimento dos espetadores à saída das projeções, testemunhando a profunda interpelação despertada por esta obra, para além das suas qualidades cinematográficas.

«O filme permitiu-me ir mais longe na reflexão sobre a fé e a religião», diz Guillaume, católico “praticante” de 25 anos, que realça as “questões fundamentais” sobre o ser humano colocadas pela obra.

Fotograma

Com o rosto marcado pelas lágrimas, Fabrice, de 30 anos, apresenta-se como «não crente» mas afirma que o filme foi para ele «um exemplo de espiritualidade».

O realizador Xavier Beauvois pediu os conselhos de Henry Quinson, antigo monge trapista da abadia cisterciense de Tamié, em França, para conhecer melhor a vida dos religiosos das montanhas do Atlas.

Esta exigência de autenticidade, percetível desde logo no “trailer”, é uma das notas principais do filme, já que muitos espetadores se mostram sensíveis à descrição da vida monástica e do empenhamento que ela testemunha.

Gilbert e Patrice, casal de reformados, descobriram o filme pouco tempo depois da estreia. «Somos católicos praticantes e apreciámos especialmente os salmos, os cantos dos monges”, afirma Gilbert.

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Nathalie, administrativa de 47 anos, também foi tocada pelo ambiente litúrgico. Afirma-se «não praticante», ainda que costume entrar espontaneamente nas igrejas para acender uma vela ou rezar.

«Desde os primeiros minutos fui arrebatada pelo filme, pelos cantos, pela beleza da liturgia, de tal maneira que me senti em comunhão com os monges. O filme despertou em mim o desejo de fazer um retiro, dado que mostra tudo o que pode gerar a vida monacal em matéria de regresso a si próprio É uma maneira de encontro consigo mesmo e será uma maneira de ver onde é que eu estou quanto à espiritualidade».

Professor numa escola secundária privada, Marc, 25 anos, «agnóstico que espera», foi também tocado pela existência dos irmãos de Tibhirine.

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«Estes monges dão-me razões de esperar porque fizeram a escolha de uma vida totalmente diferente, inteiramente dada, colocando de lado a ambição, o poder, o aparecer. Este dom total impressiona-me inevitavelmente, pois implica uma força de convicção que não tenho, um encontro pessoal com Deus».

O elemento essencial da narrativa (face à ameaça terrorista e à guerra civil argelina, a questão colocada aos monges era partir ou ficar) está intimamente ligado à fé. Mas alcança também uma dimensão universal através do caminho doloroso dos religiosos.

Há vozes discordantes, como a de Annie, 64 anos, não crente, que diz «não compreender a escolha dos monges», ainda que a considere «respeitável», mas muitos espetadores admitem que a decisão tomada pelos irmãos os interpela profundamente.

Como Josette, aposentada de 78 anos, praticante, que salienta a «coragem» dos monges do Atlas e diz-se sensibilizada pela sua «dimensão de serviço».

Marina, 38 anos, consultora de uma grande empresa de comunicação e herdeira de uma educação «muito católica», da qual se distanciou parcialmente, destaca «a vida em comunidade e a solidariedade» que dela resulta.

«Estes homens vão até ao fim, o que nos faz questionar em que condições seríamos nós capazes de continuar», acrescenta.

A coragem dos religiosos impressionou Léo, de 21 anos, estudante de artes do espetáculo, que classifica o filme de «belo e honesto, moralmente puro».

«Este monges, unicamente guiados pelo amor, emocionaram-me, em primeiro lugar por causa do amor que os une à sua terra, mas também, claro, devido à sua coragem, que é tanto política como espiritual. Gostei do gesto radical do padre Chergé que recusa dar um medicamento aos terroristas. Eu teria fugido dali a correr porque não saberia o que fazer...», reconhece Léo.

«Gosto deste risco, numa sociedade onde o relativismo é rei. A santidade do padre Chergé é uma santidade em ação. Sei que preciso de uma radicalidade que satisfaça a minha enorme necessidade de espiritualidade. Estou na expetativa de uma conversão», confessa.

Antigo responsável de uma multinacional, Jacques, 68 anos, refere que o filme «é uma enorme lição de doação aos outros, uma enorme lição de humanismo e de diálogo».

«Há divergências entre os monges, mas eles ouvem-se, falam-se, colocam-se no lugar dos outros e chegam à unanimidade. Esta harmonia, esta serenidade apesar do medo tocaram-me. Muitos dos meus amigos não crentes consideram este filme admirável, tal como eu, porque ele fala a todos que crêem no homem», diz Jacques.

«E depois, enquanto militante cristão, reconheço que este filme me faz um grande bem; apresenta uma imagem diferente daquela que por vezes nós temos. Não se trata de impor convicções mas de fazer o bem. Vou falar muito dele a toda a gente, convidar os jovens a assistir e irei revê-lo».

“Dos homens e dos deuses” estreia em Portugal a 11 de novembro.

 

Arnaut Schwartz
In La Croix
Trad.: rm
© SNPC (trad.) | 28.10.10

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