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Cinema: “Corpus Christi – A redenção”

Candidato ao Óscar para melhor filme estrangeiro, “Corpus Christi – A redenção” é uma obra surpreendente, duríssima e terna ao mesmo tempo, extraído de uma história verdadeira. Daniel, de 20 anos, sofre uma transformação espiritual enquanto cumpre a sua pena na prisão. Um lugar repleto de violência - como mostram algumas cenas (daí a classificação para maiores de 16 anos) - no qual Daniel encontra conforto numa fé sincera e na inspiração do P. Thomas, o determinado capelão do cárcere.

A frase da homilia «cada um de vós pode ser sacerdote» ilumina-o. Gostaria de ser ordenado padre, mas é impossível por causa dos antecedentes penais. Por isso, quando é enviado para trabalhar na carpintaria de uma povoação perdida da Polónia, veste-se como padre e, por um acaso, acaba por substituir o pároco, que adoeceu.

A chegada do jovem, com as suas sinceras e apaixonadas homilias que nascem da vida real, e o seu empenho humano, conseguem curar a dor de uma comunidade ferida por uma tragédia em que perderam a vida vários jovens da região. Mas o engano não dura sempre, e as consequências serão dramáticas para Daniel, confuso acerca do seu destino.

«Fiz um filme assim porque a Igreja, nos filmes, é descrita sempre de maneira estereotipada, não queria fazer comédia do género “Do cabaré para o convento”», explica o jovem e talentoso realizador Jan Komasa sobre a sua segunda longa-metragem, depois do sucesso de “Varsóvia 44”. «O filme foi encenado por Mateusz Pacewicz, o jornalista que encontrou a história em primeiro lugar e dela fez uma reportagem», acrescenta. Um caso que fez discutir a Polónia há alguns anos, o de Patrick, um rapaz de 19 anos que, durante três meses, se travestiu de padre, atraindo muitos fiéis, batizando e casando pessoas, até ser descoberto.



«João Paulo II era muito amado, e quando veio visitar a Polónia, graças à minha mãe que trabalhava na televisão, estive entre as crianças que o acolheram. Dei-lhe a mão, instintivamente, e depois reencontrei a minha fotografia nos calendários dos vendedores próximos da praça de S. Pedro»



«O caso chegou também ao Vaticano, por causa da questão da validade dos sacramentos. Mas este rapaz fazia-o verdadeiramente por fé, ao contrário de outros casos, em que se tratava de delinquentes, e ele não o era, que procuravam só fugir à lei», observa.

No filme de 116 minutos, Daniel procura o seu caminho em Jesus, após uma vida feita de drogas e erros. As rapidíssimas primeiras imagens do filme são como uma bofetada que quer introduzir o espetador no feroz mundo do cárcere, onde a violência é o pão de cada dia. O cineasta, há anos comprometido com causas sociais, fez atuar trinta jovens de várias prisões polacas para enfatizar o contraste entre uma realidade brutal e a espiritualidade e a necessidade de Deus de um rapaz à deriva, que se ilumina quando canta com voz angélica durante a missa na prisão.

Daniel (Bartosz Bielenia) estudará como celebrar missa, empenhar-se-á não sem temores. No momento certo, como que iluminado do alto (muitas vezes o seu olhar vai para o crucifixo), exprime palavras que chegam diretamente ao coração de uma comunidade fechada na própria dor e raiva.

Mesmo que ao tirar a túnica o rapaz não deixa de recair nos excessos, crescerá graças à experiência humana e espiritual na pequena povoação. Infelizmente, a verdade vem ao de cima, e Daniel, na sua renúncia, enfrentará um sacrifício duríssimo, que não será em vão.

«Neste filme trato também a necessidade de encontrar guias espirituais novos para os jovens polacos, onde após a queda do comunismo e a globalização a sociedade se torna cada vez mais secularizada», explica o cineasta.

«Mas, ao mesmo tempo, retrato, através da figura do padre idoso, a crise da nossa Igreja num país tentado pelo nacionalismo». Komasa sabe do que fala, até porque provém de uma família de artistas que faziam parte da inteligência católica que opunha resistência ao comunismo.

«Para o filme tive a consultadoria de dois sacerdotes amigos da família», acrescenta, a sorrir. «João Paulo II era muito amado, e quando veio visitar a Polónia, graças à minha mãe que trabalhava na televisão, estive entre as crianças que o acolheram. Dei-lhe a mão, instintivamente, e depois reencontrei a minha fotografia nos calendários dos vendedores próximos da praça de S. Pedro.»








 

Angela Calvini
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 07.02.2020 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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