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Leitura do dia: Deus nunca disse a ninguém para ser estúpido

Jesus, nas instruções que no Evangelho de ontem deu aos seus discípulos missionários, advertiu-os para serem realistas sobre a maneira como seriam recebidos. Nem todos lhes dariam as boas-vindas, e eles teriam de estar preparados para seguir em frente, inclusive "limpando a poeira" dos seus pés.

Hoje (Mateus 10,16-23), diz-lhes o quão perigoso será o seu ministério. «Envio-vos como ovelhas para o meio de lobos». Imagine-se a reação dos discípulos. Não só eram tão inocentes como ovelhas, como estavam prestes a encontrar oponentes tão astutos e vorazes quanto os lobos. Que oportunidade teriam? Então, Jesus acrescentou: «Sejam perspicazes como serpentes e simples como pombas». Saibam quando devem deslizar para longe e quando devem usar as asas para voar.

Ambas as alternativas oferecem alguma proteção. Sejam espertos. Evitem o perigo. E se forem capturados, façam-se de tolos, de ignorantes, não se entreguem. Jesus praticou a mesma cautela durante o seu ministério. Ficou um passo à frente de Herodes, «essa raposa», ao sair do seu território. Em algumas das suas viagens a Jerusalém, dissimulou-se, dormiu entre outros peregrinos no jardim do Getsémani, ou apareceu em público rodeado por multidões para não ser preso.

Jesus falou da sua «hora», o momento em que o seu ministério o levaria ao confronto direto com os seus inimigos. Mas até essa hora chegar, Ele continuou em movimento para concluir a sua obra, até que o Espírito o conduzisse para o ápice da sua vida, com a sua morte como profeta em Jerusalém. Ele planeou deliberadamente o seu projeto, e não correu riscos até à hora certa. Há uma frase que pode parecer dura para jovens idealistas, mas é a sabedoria dos ativistas veteranos: «Deus nunca disse a ninguém para ser estúpido».

A descrição que o Evangelho faz hoje de Jesus tem como horizonte a perseguida Igreja primitiva. Uma igreja "clandestina" perseguida por espiões e regimes hostis beneficiaria da cautela e encorajamento de Jesus, quando declarou que o Espírito falaria através dos primeiros cristãos quando estivessem diante de juízes, e que, inclusive, nem a traição nem as ameaças os privariam da sua recompensa final como seus seguidores.

O discipulado exige que passemos por vidas que podem rapidamente transformar-se em drama e oportunidade para agir com coragem, mas trata-se, principalmente, de praticar virtudes comuns e cumprir as nossas responsabilidades uns com os outros. O Evangelho precisa de heróis e mártires, mas não de pessoas à procura de perigo ou ação só por si. Muitos santos são cercados por circunstâncias e causas que quereriam evitar, mas quiseram, ainda mais, ser fiéis aos princípios e deveres quando não tiveram outra opção. Só Deus sabe quando isso pode vir a acontecer, mas, até lá, diz-nos para sermos astutos como serpentes e simples como pombas.


 

Pat Marrin
In National Catholic Reporter
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: SpicyTruffel/Bigstock.com
Publicado em 06.10.2023

 

 
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