Percebes o quanto amas uma pessoa no momento em que sentes que a podes perder.
Um dia, Giaani caiu de um terraço, vi-o rodar e bater com a cabeça na pedra de um escada, o meu coração ficou em apneia, e o medo nos olhos, deu um salto para chegar até ele, ele rolava, tomei-lhe a cabeça entre as mãos. Em poucos minutos tive a sensação de o perder e depois de o reencontrar. Mal consegui estar junto dele acariciei-lhe a fronte, com o sangue nas mãos e os batimentos do meu coração que sentiam os seus.
Passaram muitos anos desde que os caminhos da minha vida e as de Gianni se entrecruzam. Como os magos, quisemos ousar a confiança e lançámo-nos na aventura, a estrela não nos acompanhou passo a passo tirando-nos o medo e as dúvidas; tantas vezes, como eles, pensávamos que já tínhamos chegado, mas depois, na realidade, a paz e o amigo Jesus estavam mais longe.
A vida que vivemos insuflou-nos a suspeita de que talvez aqueles que todos chamam distantes não estão verdadeiramente tão distantes. Aquele Jesus que buscamos seguir não se mostra a quem sabe e conhece, mas a quem como Pedro, arriscou afogar-se para chegar à margem e abraçá-lo, a quem, como Tomé, sabe espantar-se como a fisicidade daquele corpo ao qual quer tocar as chagas e o coração aberto para aprender a dizer: «Meu Senhor e meu Deus».
Mas sobretudo aquele Jesus fez-nos compreender na pele que se mostra a quem se põe de joelhos. Conhecemos ambos os momentos em que parámos de falar e de raciocinar, e nos pusemos de joelhos, começando só então a compreender alguma coisa.
A nossa busca do absoluto e da paz do coração mostra-se aos olhos dos outros como um sinal quase impercetível, discreto, que na realidade encontrou em nós uma certa cumplicidade interior.
Obrigado a quem acrescentou óleo à lamparina que, ténue mas presente, nestes anos em Romena ilumina o caminho de quem procura.
Cada dia, como Pedro, tento confiar a Jesus a minha barca, para que dela faça um lugar do qual Ele possa falar.
E Ele repete-me a cada dia a mesma coisa: «Hoje cumpre-se…»; «hoje estarei contigo…», e esse seu presente guarda o meu passado custoso e doloroso, recordando-me as vezes que revolveu os torrões do meu coração para pedir-me que continuasse a semear.
A busca da Verdade toda inteira tornou-me desde sempre nómada e consciente de que a Ele não o encontrarei de uma vez para sempre.
Jesus não é fechado, é católico, isto é, universal, e é preciso habituarmo-nos a pensar que a luz pode vir de longe, e que não só nós possuímos a verdade.
Cada um tem o seu ângulo de verdade, e, em vez de lutar com quem tem uma fé diferente, é preciso aprender de todos e venerar o sofrimento de cada um. Não há em Jesus o querer vencer, o querer levar a sua por diante. Portanto, a verdade na qual nos podemos encontrar, qualquer que seja o nosso caminho, é a bondade misericordiosa daquele Pai de todos, e a autenticidade de cada busca.
Jesus, o mestre do impossível, ensina-nos a estar em comunhão com quem o busca e com quem não o busca, a participar na fé de todos e também na não fé de quem, por temperamento ou formação, não consegue aderir a uma fé, mas esforça-se por continuar a procurar com sinceridade.
Gostaria de compartilhar a compaixão que Jesus experimentava quando multiplicava os pães. Essa mesma compaixão a mim tão essencial para abraçar a minha miséria e para a curar, para reencontrar as razões verdadeiras da fraternidade, para conhecer o sentido do sofrimento e aprender o amor verdadeiro.
Habituei-me a chamar com o nome de Jesus cada pessoa, a dizê-lo em aramaico, Je-sciu-à, essa palavra que evoca o som do vento, que ressoa quando está só e triste, quando tens de te olhar por dentro ou ao espelho. É o único nome que fala da bondade do mundo.