«A coisa mais fundamental que me aconteceu foi ter nascido cristão» - são palavras de Eduardo Lourenço, um dos mais agudos e brilhantes ensaístas do nosso presente, numa entrevista recente, que recuperamos.
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Teve uma forte formação religiosa, em Coimbra ainda era católico praticante?
Nunca deixei verdadeiramente de o ser.
Católico? Praticante deixou.
Mesmo praticante, posso voltar a sê-lo de um momento para o outro. A minha vida, nesse aspecto, deixou de ser ritualizada, como deve ser por quem leva a sério uma certa prática religiosa, para passar para um plano mais simbólico. Mas dos símbolos podem fazer parte actos que nos devolvem a sentimentos ou gestos que supúnhamos sem sentido e continuam mais vivos que a nossa fé morta.
Mas se lhe perguntar, agora, se é católico ou agnóstico...
Essa é uma pergunta que nem sei se pode ser formulada; e que da minha parte não tem resposta. Penso é que há uma coisa inalterável: o meu enraizamento no cristianismo. A coisa mais importante, mais fundamental, que me aconteceu, foi ter nascido cristão. Ser cristão é um destino. Com todas as consequências que isso tem e implica. Quando uma pessoa ainda não tem consciência de si já banhou na água simbólica do Baptismo - e isso é indelével. Sou, cada vez mais, um cristão.
Cada vez mais, como?
Como inscrição cultural, essencial, na visão cristã do mundo, na sua radical universalidade. No papel conferido ao Outro na definição da humanidade.
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