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Andrea Bocelli tem novo disco, “Believe”: «A fé permanece o eixo da minha vida»

«A fé permanece o eixo da minha vida. Como católico praticante, acredito na força de três palavras extraordinárias: fé, precisamente, esperança e caridade. E devo dizer que é sobre estas três palavras que gira o conceito do meu novo disco. São as três virtudes teologais, mas são também três princípios éticos universais. E estão interligados, porque sem a esperança ficamos armadilhados no desconforto, sem a fé a vida é uma tragedia anunciada, sem a caridade não pode haver nem fé nem esperança.»

Tínhamos deixado Andrea Bocelli na passada Páscoa na praça deserta da catedral de Milão, enquanto entoava “a cappella”, só, uma comovente “Amazing Grace”, na conclusão do concerto pascal “Music for hope”, transmitido para todo o mundo. Agora que nos aproximamos de um Natal de incertezas e novos confinamentos, o artista italiano decidiu publicar um álbum totalmente dedicado ao espírito, ao mesmo tempo que prossegue o trabalho na sua fundação, que concebe e financia projetos educativos.

O novo trabalho, “Believe” (Crer), recentemente publicado pela etiqueta Sugar, contém 17 faixas (mais duas especiais, um “Laudate Dominum” e um “Pai-nosso”) ligados pela fé. Entre eles, uma oração inédita de Ennio Morricone, uma das últimas, se não a derradeira, que compôs antes de morrer, uma “Ave Maria” composta pelo próprio Bocelli, um inédito de Puccini há pouco tempo descoberto (“Angele Dei”), uma envolvente versão de “Irmão Sol, Irmã Lua” de Ritz Ortolani, duetos com Alison Krauss (27 prémios Grammy) e a soprano Cecilia Bartoli.










Quem canta reza duas vezes, diz S. Paulo; qual é a sua relação pessoal com a música sacra?

A música é voz da alma, penetra nas esferas mais íntimas da psique. A música sacra pode ser portadora de uma experiência que ousarei dizer até mística: tocando as nossas cordas espirituais, ajuda-nos a escutar a voz da consciência. O repertório sacro tem um papel importante na minha formação. Aas notas do órgão da pequena igreja de S. Leonardo em Lajatico, onde nasci, contribuíram para me aproximar da música. Nas mimhas recordações de infância, estão os coros durante as processões que eu seguia juntamente com a minha avó, quando se entoava “Olha o teu povo”, há páginas dulcíssimas como “Da aurora tu surges mais bela”, há o espanto e a emoção por aqueles sons mágicos. Era uma espécie de convite à reflexão, ajudava-me, já então, a dirigir a minha atenção para o Céu.

 

Apresenta uma “Ave Maria” composta por si. Como nasceu? Outra faixa mariana contemporânea muito forte é “Gratia plena”, de Paolo Buonvino.

Escrevi estas “Ave Maria” no mês de março. Estava ao piano, sozinho, elaborando as dores que todos vivemos nesta amarga primavera, e inesperadamente é como se a melodia tivesse brotado da alma. Desta composição tornou-se cada vez mais concreta a ideia de realizar um álbum que fosse um chamamento às razões da alma, à reflexão sobre o sentido e sobre o dom da vida. A segunda página mariana é muito envolvente, até porque traz consigo uma mensagem planetária de fraternidade. Estou contente por ter sido incluída na banda sonora do filme “Fátima”, de Marco Pontecorvo, que narra uma história edificante para todos, inclusive para aqueles que não têm o dom da fé.










Qual é o fio condutor que liga esta escolha tão ampla e variada de faixas ligadas ao sagrado, provenientes de diferentes épocas e países?

Este ano senti a necessidade de fazer um disco que falasse ao espírito, levando como presente ao ouvinte, nas minhas intenções, um incentivo a encontrar a sua dimensão interior e a escutar-lhe as razões. A sua estrutura é muito livre, heterogénea nos géneros, nos lugares, nos séculos. Há páginas verdadeiramente clássicas (de Fauré a Bizet, mas também trechos inéditos de Puccini e Morricone), bem como canções que certamente não são sacras, mas estão repletas de religiosidade, como “Hallelujah”, de Leonard Cohen, e “You’ll never walk alone”.

 

Que sentimento espera que chegue ao público através deste trabalho, que nos acompanhará rumo ao Natal?

O meu desejo é que estas canções levem um momento de alívio e de otimismo. O otimismo é uma atitude sempre vencedora. O medo é a única coisa de que se deve ter medo. O desafio é não perder a serenidade, evitando o inútil desperdício de energia e de defesas imunitárias pelas quais são responsáveis o pânico e o stress. A esperança, neste momento histórico, assumiu-se, mais que nunca, como ponteiro da balança existencial. O santo Natal festeja o aniversário do mundo e daquele que nos deu a vida. É um momento importante para readquirir a nossa casa interior, para nos pormos à escuta, dirigindo-nos com confiança àquele céu que guardamos dentro de nós, vivendo em harmonia e interpretando espiritualmente a nossa aventura terrena, compreendendo o quão é maravilhoso estarmos vivos.

 

Como foi o encontro com uma diva internacional como Cecilia Bartoli?

A Cecilia é uma amiga, além de colega excecional. Hoje, finalmente, unimos forças e cruzámos as nossas vozes numa composição nova, “Pianissimo”, uma página muito doce que narra o diálogo entre dois namorados, que percecionam o olhar de Deus que abençoa a sua união. Com Cecilia também gravámos “I believe”, uma canção que se tornou um clássico, um hino à solidariedade e à empatia.










Está a preparar algum evento especial natalício?

Haverá um concerto, em “streaming”, intitulado “Believe in Christmas”: estaremos, ao vivo, no teatro Regio de Parma, a 12 de dezembro, num evento espetacular através da realização criativa de Franco Dragone. E será uma maneira para voltar a abraçar, ainda que virtualmente, todos aqueles que me seguem com afeto no mundo, para lhes desejar um Natal sereno, repleto de confiança e otimismo.


 

Angela Calvini
In Avvenire
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 16.11.2020 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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