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Abbé Pierre

Lutou durante toda a sua vida. Em primeiro lugar contra o ocupante nazi; depois contra a miséria e as injustiças.

Nasceu a 5 de Agosto de 1912, em Lyon, tendo sido chamado Henri Grouès. Foi o quinto de oito irmãos. Entrou nos Capuchinhos aos 19 anos, depois de ter renunciado à sua parte do património familiar e de ter distribuído tudo o que possuía por obras de caridade. Torna-se no Irmão Filipe.

Ordenado padre em Agosto de 1938, transferiu-se para o clero secular, sendo nomeado pároco de Grenoble no ano seguinte.

Mobilizado para a II Guerra Mundial, foi atingido pela pleurisia; estava no hospital quando os franceses se renderam aos Alemães, em Maio de 1940.

Junta-se à Resistência no Verão de 1942; difunde jornais clandestinos e cria um grupo de opositores à ocupação que ajuda a passar evadidos e Judeus para a Suiça. É por esta altura que toma o nome de abbé Pierre. Preso pelo exército alemão em Maio de 1943, foge, passa pela Espanha e chega à Argélia, onde encontrará o general de Gaulle.

Terminada a guerra, lança-se na política através do ingresso no Movimento Republicano Popular, que abandonará posteriormente.

Em 1949 propõe um projecto-lei que visava o reconhecimento da objecção de consciência.
Nesse mesmo ano empreende a construção, frequentemente ilegal, de alojamentos para famílias sem-abrigo.

Acolhe na sua residência, uma casa deteriorada que restaura em Neully-Plaisance, arredores de Paris, um homem que queria pôr termo à sua vida, de seu nome Georges: “Antes de te matares, vem ajudar-me”.
A residência torna-se um albergue de juventude internacional baptizado “Emaús”. Começa aqui o combate conta a exclusão, a partir de uma ideia simples mas que ao tempo era inovadora: a revenda de objectos recuperados.

As primeiras comunidades de Emaús nascem segundo o princípio “dá-me a tua ajuda para ajudar os outros”. Elas congregam deserdados que, pelo seu trabalho de recuperação, se colocam ao serviço de mais deserdados. “Emaús tornou-se uma recuperação de homens a propósito da recuperação de coisas”, definiu o abbé Pierre. Hoje contam-se 421 comunidades, repartidas por 41 países da Europa, América, África e Ásia. O movimento de Emaús tornou-se uma sociedade de entreajuda com múltiplas vertentes, tendo como base o alojamento e o auxílio aos marginalizados – sem-abrigo, toxicodependentes, alcoólicos, ex-reclusos.

Às primeiras horas do primeiro dia de Fevereiro de 1954, uma sexagenária expulsa do seu apartamento morre de hipotermia, num passeio de Paris; alguns dias antes uma bebé tinha sido encontrada morta, igualmente devido ao frio. Rapidamente o religioso lança um apelo de socorro aos microfones da rádio RTL, desencadeando uma extraordinária vaga de solidariedade – “a insurreição da bondade”. Pessoas de todas as condições sociais oferecem dinheiro, cobertores e alimentos para permitir ao abbé Pierre e aos seus companheiros de Emaús construir alojamentos de emergência.

Depois de uma primeira recusa, três semanas antes, o Parlamento aprova por unanimidade a cedência da quantia necessária para edificar imediatamente 12.000 albergues em toda a França para acolher os mais desfavorecidos.

Apesar da sua saúde frágil, o abbé Pierre multiplicava-se em viagens – escapou de um naufrágio em 1963, no rio de la Plata, Uruguai – tornando-se a voz dos sem-voz.

No início dos anos 80 a comunidade de Emaús organiza a distribuição nocturna de alimento; em 1984 funda, com outras instituições, o Banco Alimentar. Nesse tempo, em que o desemprego crescia, reforça-se a acção em favor dos sem-abrigo.

Em 1988 é criada a Fundação Abbé Pierre, que continua o trabalho de alojamento dos desfavorecidos.

Na década de 90 abraça a causa dos direitos dos imigrados. No Pentecostes de 1991, entre a indiferença geral, jejua na Igreja de São José, em Paris, com um grupo de pessoas que mantinham uma greve de fome por lhes ter sido negado o direito de asilo.

Nunca deixou de estar ao lado dos sem-abrigo e dos indocumentados, combatendo o “mal da indiferença”. É, por isso, uma das figuras mais queridas dos franceses, tendo sido várias vezes condecorado pelo Estado.

O abbé Pierre morreu hoje, 22 de Janeiro, às 5h25, num hospital de Paris, onde estava internado desde o dia 14 devido a uma infecção pulmonar. Tinha 94 anos.

“Sobre a minha campa, em vez das flores e das coroas, trazei-me as listas das milhares de famílias, das milhares de crianças a quem tenham dado as chaves de uma verdadeira habitação”.

 

Sois todos responsáveis em comunidade pelo privilégio da cultura
Abbé Pierre, 23.09.1998, Missa na Universidade Católica, Lisboa
Recolha e tradução: Graça Pereira Coutinho

Trabalhai! Trabalhai! Trabalhai!

A vossa época é totalmente diferente de todas as outras épocas da História: vós sois a primeira geração planetária. Hoje, já nada pode acontecer num sítio qualquer sem que, pelos media, tenhamos disso conhecimento imediato. Sabemos das guerras civis, das inundações na China…. Não podeis dizer: "Não sabíamos!" Estais condenados a saber tudo. Estais destinados a trabalhar nessa perspectiva global.

Existem no mundo forças que convergem para a unidade, que transformam o mundo, até que um dia toda a terra seja uma hóstia oferecida ao Senhor.

Quando sofrerdes, não esqueçais o que nós sofremos, a minha geração. Eu tinha dois anos quando começou a guerra. Vi feridos, mutilados, tratados pelo meu pai, que era médico. Vinte anos depois, vivi a II Guerra Mundial, essa horrível guerra planetária e, depois, as guerras coloniais.

Hoje a realidade é dolorosa, mas nos momentos de sofrimento, lembrai-vos da nossa geração. É importante, para não desencorajar, lembrar que essa geração viveu também alegrias muito belas.

Trabalhai, mas não para fazerdes fortunas. Conheci um homem que tinha uma fortuna colossal e que perdeu tudo. Ele dizia-me: "Não aderirei à Igreja enquanto ela condenar o dinheiro." Eu respondi-lhe: "A Igreja não condena o dinheiro em si, ela só pergunta: De onde vem o dinheiro? Como é utilizado?"

O que os pobres desejam é honestidade na utilização do dinheiro, não um igualitarismo ridículo. O mundo espera daqueles que têm possibilidades de estudar e são privilegiados, não igualdade, mas sim honestidade. No sítio onde trabalham, esses privilegiados devem cuidar que haja trabalho e que todos sejam honestamente remunerados. É isso que as pessoas esperam.

Sois todos responsáveis em comunidade pelo privilégio da cultura. Sois responsáveis pelo amanhã.
A humanidade procura a unidade, através de meios por vezes violentos. Em França temos uma corrente de extrema-direita que grita contra os negros e os árabes: "A França aos franceses! Os outros que sofram a fome, mas no país deles." Eu tenho o direito de o dizer, porque arrisquei a minha vida na defesa da pátria. Mas, como cristão, tenho o dever de não o fazer. Em vez disso, defendo: "A terra a toda a família humana!"

Tendes o dever de colocar a vossa ciência ao serviço de toda a família humana, através da honestidade do vosso agir. Usai a ciência para ajudar a solucionar o problema da fome. Vede o exemplo da fome no Sudão e o que Israel fez do nada do deserto. Os nossos irmãos judeus tinham a vantagem do grande número de peritos e cientistas, mas causaram escândalo por se terem esquecido dos que aí viviam.

Trabalhai com uma visão inteligente do futuro.

Sou velho, tenho 86 anos e desde os 6 ou 7 anos que tenho um desejo muito forte de morrer porque, quando o meu avô morreu, me explicaram como era bonito no céu. Quando pensava que tinha entregue tudo a Deus, verifiquei que não tinha ainda entregue este desejo de morrer novo. E aqui estou, com esta idade. É preciso prudência ao falar com Deus porque, por vezes, ele toma-nos a sério!

Amai a vida. Uma vez participei num programa de televisão em que tinha como interlocutor um homem muito violento, muito agressivo, que me perguntou: "O que é a vida?" Respondi: "A vida é um bocado de tempo dado a liberdades para termos a capacidade de amar. Nós, formiguinhas, somos os únicos com uma pequena parte de liberdade, de capacidade de amar e de responder com amor ao amor. Mas porquê tantas crueldades, tantas atrocidades? Deus é bom, é amor, apesar dessas infelicidades. A vida ganha sentido se, com a minha liberdade, eu quiser aprender a amar para o encontro com o Amor eterno." Quando acabei estas palavras pouco usuais, o meu interlocutor, homem ateu, conhecido pela blasfémia, gritou: "Porque não me disseram isso quando eu era pequeno?"

Repeti isto na Argélia. Tendo eu acabado de falar sobre este mesmo assunto a um grupo de estudantes do ensino secundário, fui abordado por um grupo de estudantes muçulmanos, que me pediram: "Importa-se de repetir isso que disse sobre a vida, para o podermos escrever? É que é isso mesmo que nós procuramos!"

Por isso vos digo: pela maneira de viver, mostrai aos outros o verdadeiro Deus do amor. Para o mundo importa o que os cristãos fazem, não o que dizem. A este propósito, ainda ontem fui recebido pelo vosso Presidente da Câmara, que me disse honestamente: "Não acredito em Deus!". Contei-lhe que, ao fazer casas com os companheiros, procurei um homem não-crente para arranjar cimento. Disse-me que eu era o primeiro padre que entrava em casa dele, e que queria falar sobre coisas que o escandalizavam, tais como as diferenças que tinha observado entre o enterro de um homem rico e o de uma mulher pobre. No final deu-me o material e, antes de eu sair, disse-me: "Não sei se Deus existe, mas se existe, ele está no que o Senhor faz: servir os pobres!"

 

Citações

Há quem seja especialista em política. Por mim, prefiro ser especialista em humanidade.

A minha mensagem? Há uma só, que é um grito: «Partilhai! Dai! Estendei a mão aos outros! Guardai sempre uma vidraça quebrada nos vossos universos bem almofadados para ouvir as lamentações que vêm do exterior.

Quando os sociólogos estudarem o fenómeno Abbé Pierre, para lá do vedetismo e dos discursos inflamados, verão que Emaús permitiu que se reconstrua, sem darmos por isso, um mecanismo que desaparecera do nosso tempo: a função profética.

Globalmente, estou certo de não me ter enganado. Quando se estende a mão à miséria, não nos podemos enganar.

Ninguém é, seriamente, bom, justo ou verdadeiro, enquanto não se resolver, segundo os seus meios, a consagrar-se, com determinação e com todo o seu ser, a confortar todo o sofrimento humano e a destruir as suas causas.

Não devemos esperar ser perfeitos para começar qualquer coisa de bem.

Não podemos, sob o pretexto de que nos é impossível fazer tudo num dia, não fazer absolutamente nada!

A primeira tarefa dos que querem agir é levantar o véu, mostrar à opinião pública o que ela não quer ver.

A primeira regra antes de agir é pôr-se no lugar do outro. Nenhuma verdadeira procura do bem comum é, sem isso, possível.

Quando se assistiu ao sofrimento e à dor de criancinhas, não é possível, a menos que se seja um monstro, ficar imperturbável, não se sentir ligado, estrangulado, pela injustiça do mal de qualquer petiz, de qualquer inocente. Quem pode dormir em paz, enquanto as crianças sofrem?

Graças a vós, nenhum homem, nenhum rapaz se deitará esta noite nos passeios ou nas estações de Paris. Obrigado.

Uma noite, tínhamos acabado uma casa, uma pobre barraca […]. Era uma alegria… Depois, toda a gente saiu para a noite. Eu tinha ficado, já não sei porquê, um pouco mais tempo, com um velho, que já morreu: era carpinteiro, um velho malfeitor: Martúrio. Ao regressar à nossa comunidade […] Martúrio resmungava, empatava, mas de repente agarrou-me o braço e disse-me emocionado:
- Padre, nós, nós somos homens maus, tivemos más vidas; não prestamos para nada; mas, apesar disso, hoje, para aquela mãe, para o pai e os miúdos que estavam tão felizes, fomos nós que fizemos o que os outros - que pensam que servem para alguma coisa - nunca fizeram!
Adivinhem tudo o que aquilo significava de reabilitação. Aquele orgulho redimia-o de tudo.

Vós, com todos os vossos pobres, sois leões; nós somos pulgas. Vêem-se, com frequência, pulgas a morder leões, mas poucas vezes leões a morder pulgas. Tendes razão em ter medo de nós; somos mais fortes do que vós.

Emaús é um pouco o carrinho de mão, as pás e as enxadas antes das bandeiras. […]
Todo o movimento reside nesta ideia: salvamo-nos quando nos tornamos salvadores.

Se, em seguida, tantas maravilhas se iriam realizar foi porque, entre nós, o primeiro que deu o seu lugar a uma mãe sem-abrigo, foi Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sozinho, cada um não é nada. Mas se nos unirmos, mesmo separando lixo, pouco a pouco, viveremos, não tendo mais necessidade de mendigar, teremos o suficiente para viver e, um dia, alojaremos famílias, far-lhes-emos uma barraca e veremos a felicidade de uma mãe. Quando já não tínhamos felicidade, vamos encontrá-la devotando-nos a dá-la aos outros.

Quando deitas fora o pedaço de ferro-velho, deitas fora o homem! Quando recuperas o pedaço de ferro-velho, acreditas no homem que o tirou da lixeira.

A miséria assalta-nos, o egoísmo oprime-nos, a brutalidade grassa em todo o lado. Temos de nos insurgir, enfrentar a guerra suja que ameaça destruir-nos. A pobreza mina a paz!

A miséria não é uma fatalidade. Vem de nós, da nossa absurdidade, da nossa incapacidade de pensar a partilha.

Enquanto existir a miséria, enquanto reinar a exclusão, não conheceremos nem a paz de alma nem a alegria de viver, nem a Paz.

Disseram-me durante toda a minha vida: «O que o senhor faz é ilegal». Respondi: Quando os que trabalham não podem ter um tecto, o que é ilegal é a lei. As nossas acções mais não fazem do que antecipar decretos futuros. A lei não poderá permanecer indefinidamente sem resposta às misérias humanas.

Para os cães que morrem de fome, há um canil. Será que, para os nossos irmãos e irmãs não haverá nada? Os asilos estão cheios, disseram-nos. Um bom agente de autoridade a quem dizíamos: «Mas não pode levá-los para algum lado?», respondia-nos: «Se não estiverem mortos não temos instruções». Se estivessem mortos chamaríamos a morgue.
Para os vivos não há lugar. Então, é preciso que façamos qualquer coisa. Rapidamente. […]
Ajudai-nos! Ajudai-nos para que possamos dar-lhes tendas, abrigos, colchões, dar-lhes uma sopa quente.
Não é possível que os nossos irmãos vivam e morram assim; caso contrário, seremos verdadeiramente piores do que selvagens. Ajudai-nos!

Os contemplativos podem parecer inúteis. Na realidade, nos momentos mais dramáticos da vida espiritual interior ou colectiva do mundo inteiro, são como glaciares. Nada neles é inerte. Tudo estala por todos os lados. Não cessa a vida. È debaixo do glaciar que jorram as torrentes que fazem os nossos rios e as nossas águas mais puras. Eles são o sal da terra… Nós somos a sopa… E a sopa, sem sal, não presta…

Nada de idealismo. Deus não está no céu, está no pobre tipo que neste momento te fala. Cristo encarnou neste vadio, neste ladrão, neste mentiroso. A glória de Deus está encarnada em ti que lês, em mim que falo…

A marca de Deus todos os homens a trazem em si como um vazio, uma sede de amor ilimitada.

Ao ordenarmos a arquitectura das nossas igrejas, muitas das quais são aquecidas e outras tantas, infelizmente em grande número, estão vazias, poderia ter-se um lugar de acolhimento de dia para os que estão em albergues de noite. Eis uma das urgências mais prementes.

O Inferno não é um castigo, uma espécie de vingança de Deus! Tudo isso são imagens. É muito mais grave: é o instante de clareza, de plena luz em que cada um se vê tal como se fez: comungante ou cheio de si, por outras palavras, amando ou adorando-se a si próprio. Eu! A minha carreira! O meu sucesso! A minha fortuna! «Pretendeste ser auto-suficiente? Basta-te a ti mesmo!» Tal será a condenação. O Inferno não são os outros. É estar votado a ver-se tal como é ao espelho por toda a eternidade.

Segundo a etimologia latina, a fé é a adesão do espírito sob o impulso da vontade. Nada tem a ver com a conclusão de um raciocínio ou com um dever ligado ao medo do pecado ou do diabo. A fé é um apelo à liberdade de amar. É um acto de amor.

As mortes de que fui testemunha pareceram-me sempre um momento de realização: o momento em que Deus colhia a sua flor.

Quando José e Maria chegaram ao albergue não os aceitaram: «Está cheio! Vão para além, para a gruta, com os animais». Se tivessem chegado com muita bagagem, estou certo de que lhes teriam arranjado lugar, mesmo que tivessem que mandar sair um mais pobre do que eles. Mas Jesus escolheu chegar assim, como um pobre entre os pobres, um sem-abrigo.

Traduzimos «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» por: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti», por outras palavras: «Não lhes faças mal». Que abominação! Como se dois esposos, dois amigos, dissessem: «Vê bem que te amo, pois não te atiro ao tapete…».

O eterno é Amor
Somos amados
Somos livres para sermos capazes de amar.

A escola não é só para ensinar o que são as coisas, mas para abrir os espíritos ao conhecimento do que é o nosso ser comum de homens. Deve abrir os corações às fomes e às sedes de justiça, à vontade de servir primeiro os mais sofredores, ao que importa chamar as cóleras do amor.

Quando nos indignamos, convém que nos perguntemos se somos dignos.

Compreendo a angústia dos jovens. Eles vêem adultos que perderam o sentido da vida. Recebem deles apenas incertezas.


 

Fontes: La Croix, Fundação Abbé Pierre, Site internacional do Movimento Emaús
Atualizado (mudança de grafismo da página) em 17.10.2023

 

 
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