À luz de quanto foi anteriormente dito, torna-se manifesto que, para Zubiri, “o problema radical do homem, o tema radical da realidade humana, é o problema teologal”(1): Deus é assim “o título de um magno problema”(2).
No entanto, em cada posicionamento neste campo há uma tendência para a demissão, pensando-se ser aos que perfilham posições diversas que cabe uma justificação.
Deste modo, “o ateu pensa que como Deus não é uma realidade imediata, é ao crente que incumbe a justificação da afirmação de Deus. Mas ao teísta sucede o mesmo. Vive imerso na fé em Deus e estima que é o ateu que tem de dar razões para negar a Deus”(3).
Por outras palavras, “para o teísta, quem tem um problema de Deus é o ateu; para o ateu, é o crente”(4).
Com efeito, “o teísta crê em Deus, mas não vive Deus como problema. A sua vida, orientada para Deus com firmeza total, encobre o que esta crença tem de problema. Tentará, no máximo, fazer ver ao ateu a realidade deste problema”(5).
Acontece, entretanto, que, actualmente, a tendência não é tão marcada por uma ideia de Deus positiva (teísta) ou negativa (ateísta) ou agnóstica, mas “por uma atitude mais radical: por negar que exista um verdadeiro problema de Deus”(6).
Neste contexto, é imperioso dar conta de que Deus é um problema para todos. “O crente tem de dar razões da sua crença, e o ateu tem de dar também razões da sua negação de Deus, assim como o agnóstico tem também de dar razões da sua agnose”(7).
É que “o ateísmo e o agnosticismo não são menos crenças que o teísmo. Os três necessitam de fundamentar a sua atitude porque, em última instância, não basta a firmeza de um estado de crença, sendo também necessária a sua justificação intelectual”(8).
De facto, nenhum está em condições de “não necessitar de fundamentar a sua atitude”(9).
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João António Pinheiro TEIXEIRA, O divino a partir do humano, O problema de Deus em Xavier Zubiri, in Henrique de NORONHA GALVÃO (org.), Em Nome de Deus Pai, Edições Didaskalia, Lisboa, 1999, pp. 248-249.
(1) G. GÓMEZ CAMBRES, art. cit., p. 224.
(2) X. ZUBIRI, El hombre y Dios, p. 11.
(3) Loc. cit. Como assinalou H. Kung, a inquestionabilidade plena neste campo é praticamente uma miragem: “Todas as provas dos ateus mais eminentes chegam para tornar questionável a existência de Deus, mas não chegam para tornar inquestionável a não-existência de Deus” (24 tesis sobre el problema de Dios (Madrid, Cristiandad, 1981)), p. 56.
(4) X. ZUBIRI, op. cit., p.12.
(5) Ibid., p. 370.
(6) Ibid., p. 12.
(7) Loc. cit.
(8) Loc. cit.
(9) Ibid., p. 370.