Hoje o espaço crente está em reconfiguração. As categorias que serviram para plasmar historicamente a geografia cristã, tal como a conhecemos, são pressionadas pela necessidade de atender a novas realidades. Um número sempre maior de cristãos vive a sua fé "fora de portas", em contextos heterogéneos, onde a presença tradicional do religioso não chega, ou chega de um modo transformado e rarefeito. Muitas vezes a relação que mantêm com uma prática crente estruturada é ambígua e ocasional, mas não deixa, na sua complexa acuidade, de constituir uma interpelação irrecusável. Que eixos estruturam e corporizam hoje a identidade cristã? Como é que um sujeito se reconhece cristão? E como é ele reconhecido por parte da comunidade eclesial e da sociedade onde se insere? A necessidade de voltarmos a estas interrogações, mostra-nos, só por si, como estaremos a entrar num patamar novo da Evangelização.
Num tempo de aceleradas transformações, cresce o número de “paróquias” que não vêm no mapa. A paróquia nasceu numa época rural de grande estabilidade, e expressava um mundo de composição sedentária. Um sólido ligame comunitário oferecia a cada um o seu lugar, o seu estatuto e emprestava unidade clara aos ritmos da vida. Mas uma nova cultura está emergindo, que nos pergunta se vale a pena insistir exclusivamente nos modelos e estruturas de evangelização que já utilizamos. A transmissão geracional, a história, o tempo e o território deixaram de ser os contrafortes que sustentam o caminho da Fé. A crise actual, como recordam alguns, não é tanto uma crise do crer, quanto das comunidades de crença e da sua incapacidade para dialogar com as mutações culturais em curso. Hoje os trajectos da identidade crente são mais individuais e, porventura, mais exigentes; a mobilidade contraria as mediações estáticas de iniciação e celebração; novos espaços de construção social emergem nas vastas, e ainda desconhecidas, redes do electrónico e do virtual; instalam-se novos códigos de cooperação com a realidade, onde o sujeito não abdica da sua “realização” ou do “sentir-se bem na sua pele”; propaga-se não apenas uma técnica e um comportamento, mas uma cultura e uma civilização.
Que atenção dedica, a Igreja em Portugal, a estas imensas paróquias sem lugar e sem nome?