Ciência e teologia podem convergir num enriquecimento mútuo. A ciência pode libertar a teologia duma leitura ingénua, literal e fundamentalista da Escritura e de atitudes de superstição e magia que atribuem ao sobrenatural o que é explicável pela natureza.
Se a ciência pode, assim, enriquecer a teologia, (...) também a teologia “pode purificar a ciência da idolatria e dos falsos absolutos”1, fornecendo aos cientistas um campo fértil quando eles, a partir da ciência, aspiram a um absoluto e à formulação dos valores últimos. Assim se conseguirá que a “teologia não professe uma pseudo--ciência e a ciência não se torne, inconscientemente, teologia" (1).
A teologia dá ao homem de ciência a mais-valia de contemplar a Deus na sua investigação e de aí se sentir seu colaborador na obra da criação. A ciência, como conteúdo, métodos e conclusões continua e deve continuar laica, mas vivencialmente torna-se sagrada.
A precariedade de modelos (tanto científicos como teológicos) e o aceitar que eles nunca podem esgotar a realidade, é um dos factores que facilitam a abertura ao diálogo.
Tecno-ciência e teologia são duas dimensões em confrontação conflitual, mas não necessariamente conflituosa, da mesma vida humana. Espelham, a seu modo, a tensão entre as duas naturezas antitéticas da pessoa única de Cristo. Sem investigação técnico-científica, a criação de Deus não ficaria completa. Mas sem vivência da teologia, não seria redimida.
Por detrás da ciência e da teologia está o mesmo Homem, construtor compulsivo de progressos científicos e perseguidor imparável do Deus da sua esperança. Porque sem progresso, a vida pára e faz-se noite. Mas sem esperança, não se abre à manhã límpida do novo dia.
(1) LOBO ANTUNES, João, “Ciência e Fé”, Brotéria - Cristianismo e Cultura 152 (2001).