Estou literalmente emocionado pelo discurso do papa Francisco aos artistas. O pontífice vê nos artistas uma passagem para a beleza, considera-os quase como faróis para ver a luz e a bondade, compara os artistas, os músicos, os pintores, os escultores às crianças, porque o artista verdadeiro é puro como uma criança, é sempre entusiasta, surpreende-se perante a criação e a natureza, a uma poesia, a um quadro.
Um artista percebe bem que por trás de uma obra de arte perfeita, como a “Missa em Si menor” do Platão da música, Johann Sebastian Bach, por alguns considerado o “quinto evangelista”, não pode estar unicamente a mão humana: para quem crê, está a obra do Espírito Santo, ou até a mão de Deus. Não se consegue explicar uma tal ordem, uma tal perfeição, como, de resto, acontece na Capela Sistina.
Considero belíssima a afirmação do pontífice em que diz aos presentes, ao falar da Capela Sistina, «aqui tudo é arte». A arte para muitos, e também para quem assina estas palavras, foi uma salvação: eu, na música, não só encontrei uma aliada sólida para combater as adversidades da vida, como também encontrei a luz de Cristo.
A arte e a música constituem a esperança que tanto fala o papa Francisco, num momento tão negro como o atual, onde há mulheres que para terem um pouco de liberdade – como no meu país-natal, o Irão – perdem a vida só porque querem ser normais, abraçarem-se, darem-se a mão, dançar e cantar.
É nestes momentos difíceis que a arte e a cultura se tornam naquela esperança nas trevas de que fala o papa, como a voz de Marlene Dietrich durante a Segunda Guerra Mundial. O verdadeiro artista sofre e rejubila, surpreende-se, comove-se perante a verdade. Eu, graças à arte e à música, tornei-me cristão, pois encontrei aquela luz de que fala o pontífice.
Há um período preciso da minha vida, quando era muito jovem e perspetivava a minha carreira cheio de medos e desorientações, em que me parecia que podia morrer de um momento para o outro. Regressado de uma breve digressão de concertos na América do Sul, em que tive muito sucesso, deixei de ter forças para tocar, não dormia, estava infeliz e tinha perdido toda a esperança.
Um dia, em pleno agosto, encontrava-me na sacristia de uma belíssima igreja veneziana onde ia ter um recital, e senti-me literalmente perdido, como esvaziado. Tinha medo de tocar, sentia-me inapto e exausto. Era muito jovem, estava no início da minha carreira de concertista que se afigurava prometedora, dado que quando tocava tinha sucesso e o público aplaudia-me calorosamente.
Ainda assim, naquele momento tive esta espécie de impedimento para atuar. Estava verdadeiramente numa crise existencial e profissional. Porém, recordo como se fosse agora, que meia hora antes do início, o meu olhar notou uma estampa com uma maravilhosa imagem de Cristo. Por baixo estava escrito: «Conheço as tuas misérias, dá-me o teu coração e ama-me como és». Era um texto famoso de D. Lebrun. Tive um sobressalto: esta simples oração exortava-me a amar sempre cada vez mais, apesar das minhas imperfeições e dos meus erros. Graças à enorme força regeneradora que dela recebi, fiz um dos concertos mais belos da minha vida, que ainda hoje recordo com grande alegria. Naquele momento compreendi que a arte é como a união do terreno com o divino, com os olhos de uma criança.
O meu desejo para todos nós é que coloquemos sempre em prática as reflexões do papa Francisco, ou seja, surpreender-nos e olhar com os olhos serenos e plenos de desejo de uma criança a arte e a nossa vida, procurando fazendo do nosso mundo uma magnífica orquestra feita de espanto, entusiasmo, fraternidade, harmonia e humanidade.