Fé e cultura
Átrio dos Gentios: fazer dialogar a Esperança e a Espera
Precisamente neste final de março, a Igreja Católica escolhe dois lugares representativos da cultura europeia, Bolonha e Paris, para lançar um projeto que procura aproximar crentes e não-crentes, convidando-os a substituir o confronto pelo diálogo, e que tem a assinatura clara de Bento XVI e do seu colaborador para a cultura, o Cardeal Gianfranco Ravasi.
Antes de tudo, perguntar pelo nome escolhido para esta iniciativa: por que se foi recuperar uma designação que hoje não repetimos sem estranheza? Sem dúvida, pela forte inspiração simbólica. O “Átrio dos Gentios” era uma das partes constitutivas do Templo de Jerusalém. O interior do Templo, propriamente dito, organizava-se em três zonas: uma para o povo de Israel, uma para os Sacerdotes, e em seguida o Santo dos Santos. Mas entre este espaço interior e o muro externo, existia um átrio delimitado por colunas, que podia ser frequentado por não-israelitas. Era uma zona de silêncio (isto é, não votada ao comércio ou a curiosidade dos turistas de então, mas propícia às indagações profundas), onde alguns mestres judaicos se disponibilizavam para conversar sobre Deus e sobre a Torah com os estrangeiros que o desejassem.
Na apresentação entusiasmada que faz do projeto, o Cardeal Ravasi diz que este se destina a construir «uma gramática nova», onde vencidas, de parte a parte, «tanto as apologéticas ferozes como as dessacralizações devastadoras», se possam revelar e mutuamente se ouvir «as razões profundas da esperança do crente e da espera do agnóstico». É, portanto, uma estação de diálogo que a Igreja quer estimular, deixando para trás a lógica do confronto ou o gelo da indiferença. De facto, Deus é uma questão para todos, crentes e não-crentes.
E perante essa questão, o próprio caminho dos crentes é chamado a integrar a pergunta, a dúvida, a opacidade. Tal como um caminho não-crente, em tantos momentos e de formas indizíveis, é chamado a tocar o divino de Deus. Por isso, o sentido deste “Átrio dos Gentios”, que vai correr várias cidades do mundo (já estão programadas Florença, Tirana, Estocolmo, Berlim, Moscovo, Washington, entre outras), pode ser resumido num desafio: «busquemos conjuntamente».
José Tolentino Mendonça
© SNPC |
24.03.11


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