O papa Francisco determinou, em 2015, que a Igreja católica assinale a 1 de setembro o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, à semelhança do que já acontecia na Igreja ortodoxa.
Para assinalar a data, propomos o filme “À deriva”, que estreou em junho nas salas de cinema em Portugal e que está disponível em videoclube da Cinemundo a partir de hoje, 30 de agosto.
“À deriva”, filme de aventura e romance, baseia-se numa história verdadeira onde a natureza desafia os protagonistas a agarrarem-se à vida e a conhecerem as suas potencialidades e limites.
Realizado pelo islandês Baltasar Kormákur ("Em último recurso", "Contrabando”, The Deep – Sobrevivente”, “Evereste”), o filme de 96 minutos tem como heróis de uma viagem solitária no Pacífico dois atores em forte ascensão em Hollywood e muito queridos dos “millennials”.
Shailene Woodley, conhecida pela comédia dramática “A culpa é das estrelas” (2014) e a saga “Divergente”; Sam Clafin popularizou-se por “Branca de Neve e o caçador” (2012) e “The hunger games” (2013-2015).
O filme inspira-se na história de Tami Oldham Ashcraft, ocorrida em 1983 e relatada na biografia "Adrift", assinada também por Susea McGearhart e traduzida no Brasil por “Vidas à deriva”.
Richard Sharp (Claflin) é um “skipper” profissional que acaba de conhecer a jovem Tami; juntos, aceitam fazer uma travessia marítima num veleiro, do Taiti a San Diego. Uma viagem aventurosa, que cedo começa a correr mal: uma tempestade abate-se com violência na embarcação, em plena travessia do oceano.
Ferido, Richard torna-se incapaz de guiar o barco, cabendo a Tami a missão de manter a rota e sair do olho do furacão, tarefa que exige 41 dias de momentos difíceis e dramáticos. Uma jornada que mudará para sempre a existência de ambos e o seu modo de se relacionar com a vida.
Na esteira de uma emocionante história verdadeira, Kormákur narra uma relação que tem a beleza do sublime, mas também apresenta um lado feroz. Em particular, Tami desempenha um papel de primeiro plano, lançando-se numa dança com a natureza, que acaba por assumir os contornos de um desafio muscular.
No início do filme, Tami mostra a sua incerteza e revela-se quase intimidada pela aventura; depois entrega-se ao encantamento, capturada pela beleza dos espaços abertos, do mar a perder de vista do envolvente céu estrelado. Um horizonte por vezes paradisíaco, rompido com a chegada de uma tempestade que submerge toda a esperança e fantasia. O que passa a contar é pôr-se a salvo.
Esta viagem agitada e vertiginosa, feita de suor e sangue, torna-se igualmente um percurso interior onde termina a juventude e começa a idade adulta, feita de luzes e sombras. Tami tropeça nas suas fragilidades, mas também encontra forças para se reerguer de modo a procurar o resgate. Representa a imagem de uma heroína contemporânea, chamada a enfrentar as insídias da vida, aprendendo a não ceder ou a desistir.
Trata-se de um filme destinado certamente a um público jovem (M/12), mas não só, sendo capaz de tocar muitos temas, do amor à solidariedade, de aventura à solidão, dos entusiasmos fáceis à complexa gestão dos momentos da vida. Um filme que, do ponto de vista pastoral, é aconselhável e problemático, sem dúvida adaptado a contextos educativas.
Kormákur não é o único cineasta a confrontar-se com o tema da viagem e do encontro com a natureza (refira-se o já citado "Everest", a audaz conquista do cume mais alto do mundo). Recordemos, por exemplo, "Quando tudo está perdido" (2013), de J.C. Chandor, com um extraordinário Robert Redford à deriva, sozinho, no oceano Índico, em busca de salvação. Lembramos também a análoga aventura “Em solitário” (2013), do francês Christophe Offenstein, com o bravo François Cluzet.
Mas recordemos sobretudo o belíssimo “Tracks” (2013), de John Curran, com a intensa Mia Wasikowska, evocando a história verídica de Robyn Davidson, que em 1997 desafiou não o mar aberto mas o deserto australiano, percorrendo 2700 km com quatro camelos e um cão. Uma viagem física e interior com pinceladas espirituais e poéticas.