A cidade alemã de Wittemberg, onde em 1517 o monge agostiniano Lutero afixou publicamente as 95 teses que desencadearam a reforma protestante, recebe no sábado a equipa de atletismo do Vaticano, que pela primeira vez corre fora de Itália.
A vintena de competidores da Athletica Vaticana, convidados por uma equipa protestante local para agradecer o acolhimento oferecido pela Santa Sé em março de 2018, integrarão uma competição noturna de 10 km no coração da cidade.
A estreia internacional tem «um grande significado espiritual e simbólico», por se integrar nos objetivos da equipa, a promoção e o relançamento de oportunidades de diálogo, amizade, reconciliação e solidariedade através do desporto.
«A Athletica Vaticana quer simplesmente partilhar com os concidadãos de Lutero a paixão pela corrida e a alegria do desporto», que reforça o «diálogo e a amizade entre os cristãos», sublinhou o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, organismo da Santa Sé no qual se integra a equipa oficial.
O prelado referiu-se aos «recentes e sanguinários atentados contra os cristãos durante a celebração da Páscoa», assim como aos «tiroteios contra sinagogas e mesquitas nos dias de culto», para salientar que «é mais urgente que nunca reforçar o diálogo e a amizade entre os crentes, especialmente entre os cristãos», naquela que considera uma «hora decisiva para a Europa e para o mundo».
O responsável pelo departamento de Desporto do Conselho Pontifício da Cultura e presidente da Athletica Vaticana, Mons. Melchor Sanchez de Toca, destacou o facto de «a primeira saída como grupo oficial ao estrangeiro ter a dimensão do diálogo ecuménico».
Entre os corredores da equipa que se veste com as cores do Vaticano estão dois atletas com deficiência: a pequena Sara Vargetto, que combate uma grave doença neurodegenerativa, e Gianluca Palazzi, obrigado a deslocar-se em cadeira de rodas.
Com o Monsenhor Melchor Sanchez participam na corrida cinco padres, dois guardas suíços, um professor da Biblioteca Apostólica, um jornalista do jornal do Vaticano, e colaboradores de diversos serviços da cidade-estado.
Nos três dias de estadia na Alemanha, a equipa também visitará um centro para deficientes da diocese de Magdeburgo, e encontrará as comunidades luterana e católica, para uma troca de experiências e uma oração ecuménica.
«Como ensina a história, muitas vezes o desporto consegue criar pontes de diálogo onde os governantes não capazes de falar entre si», vincou Mons. Sanchez, como aconteceu em 2018, quando o desporto permitiu «uma via de saída da escalada que estava a ser criada e permitiu realizar o sonho de uma Coreia unida», que desfilou nos jogos olímpicos de Pyeongchang.
O responsável está convicto de que este desanuviamento vale também para o diálogo entre cristãos: «Poder-se-ia dizer que o ecumenismo desportivo abate barreiras, cria amizade e pode limpar os preconceitos do caminho».